JORNAL OPÇÃO, REPORTAGENS, 11 A 17/12/2011
Goiânia, com 3,3%, e Anhanguera, no Sul do Estado, com 3,7%, são as cidades goianas com os menores índices de pessoas que não sabem ler nem escrever; Cavalcante, no Norte, com 26,9%, e Castelândia, no Sudoeste, com 25,3%, têm as maiores taxas
Cezar Santos
O índice de analfabetismo teve queda considerável em Goiás na última década, segundo o Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse índice caiu de 10,8% em 2000 para 7,3% em 2010. Em números, são nada menos que 362.829 goianos na faixa etária de 15 anos ou mais que não sabem ler nem escrever.
O problema é mais sério nas faixas etárias mais velhas: 166.477 (29,6%) pessoas analfabetas com 60 anos ou mais e 131.052 (9,7%) de 40 a 59 anos — são 52.479 (3,4%) de 25 a 39 anos e 12.821 (1,2%) entre 15 a 24 anos.
E 44.837 pessoas negras (13,8%) do Estado são analfabetas; entre os pardos, 197.162 pessoas (8,8%); entre os brancos, 115.862 (6,1%). Negros e pardos, que formam a maioria da população, têm mais que o dobro de brancos nessa categoria — 241.999 contra 115.862. Amarelos e indígenas completam esse contingente somando 4.966 pessoas.
Nas cidades
O município goiano com o menor porcentual de analfabetos é Goiânia, o que se compreende pela priorização de investimentos por parte do governo estadual e da prefeitura que arrecada mais recursos. São apenas 3,3% de analfabetos na Capital, que em números absolutos chega a praticamente 34 mil pessoas.
Mas a pequena Anhanguera, na microrregião de Catalão, Sul do Estado, também tem um índice invejável. Lá, apenas 3,7% da população de pouco mais de mil habitantes não sabe ler nem escrever. Como são apenas 30 pessoas nessa condição, não é difícil imaginar que a prefeitura pode se dar ao luxo de procurar uma por uma para oferecer a alfabetização.
Inversamente, em porcentuais, dois municípios goianos ostentam índices de inaptos no alfabeto que abrangem mais de um quarto de suas respectivas populações: Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros (Norte do Es-tado), com 26,9%, ou 1.693 pessoas) e Castelândia (25,3% ou 716 pessoas), no Sudoeste do Estado.
Importante observar que em 2010, 200.123 goianos não sabiam ler e escrever — considerando a população que estava em creches, pré-escola, classe de alfabetização e alfabetização de jovens e adultos —, mas que neste ano já conseguiram suprir essa deficiência, pelo menos a maior parte deles.
Considerando o ranking nacional, Goiás está em oitavo lugar entre os Estados com menor porcentual de analfabetismo. O índice de 7,3% fica abaixo do nacional, que é de 9,6%. No Nordeste o analfabetismo atingiu o índice de 19,1%, seguido das regiões Norte (11,2%), Centro-Oeste (7,2%), Sudeste (5,4%) e Sul (5,1%). Nos Estados, a taxa de analfabetismo maior está em Alagoas (24,3%); a menor, no Distrito Federal (3,5%).
Índice cai, mas o País não está bem na fita
A taxa de analfabetismo entre a população brasileira com 15 anos ou mais diminuiu 4 pontos porcentuais entre 2000 e 2010 segundo os Indicadores Sociais Municipais do Censo Demo-gráfico 2010, divulgados no mês passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número caiu de 13,6% para 9,6%.
Mesmo com essa diminuição, a taxa de analfabetismo na região Nordeste ainda ultrapassa um quarto da população, chegando a 28% das pessoas nessa faixa etária. A situação no Nordeste é preocupante. Se na média do País a proporção de adolescentes e jovens que não sabiam ler e escrever atingia 2,5%, no Nordeste era praticamente o dobro (4,9%), com mais de 500 mil pessoas nessa faixa etária.
Na Região Sul o porcentual era de 1,1% e no Sudeste, de 1,5%. Entre jovens e adultos, o levantamento revela que 32% deles não contavam com o programa Educação de Jovens e Adultos (EJA). O estudo também deixou claro as diferenças em termos de alfabetização nos resultados segundo cor ou raça. Enquanto entre os brancos, o porcentual de analfabetos para pessoas com 15 anos ou mais era de 5,9%, entre os pretos atingiu 14,4% e entre os pardos, 13%. Na área urbana, o indicador passou de 10,2% para 7,3% da população. Já nas áreas rurais, ele teve uma melhora de 29,8% para 23,2%.
DF é o melhor
Nos Estados, a menor taxa de analfabetismo foi encontrada no Distrito Federal (3,5%) e a maior em Alagoas (24,3%). As maiores quedas entre a população com 15 anos ou mais se deram no Norte. Apesar da melhora, o nível de analfabetismo no Brasil ainda está acima de muitos países, até mesmo subdesenvolvidos. De acordo com dados de 2009 do Banco Mundial, a taxa de analfabetismo era de 8,14% no Zimbábue, país africano com PIB per capita igual a 5% do brasileiro.
Entre as crianças brasileiras de 10 a 14 anos, 3,9% ainda não estavam alfabetizadas em 2010, o que representa cerca de 671 mil crianças. Em 2000, o número deste contingente era de 1,2 milhão de crianças, ou 7,3% do total.
A pesquisa apurou que as crianças que vivem em famílias pobres demoram mais para serem alfabetizadas. Conside-rando as crianças de 10 ou mais, o analfabetismo atinge 17,5% das que vivem em famílias com renda per capita de até um quarto do salário mínimo, 12,2% nas que vivem com renda de um quarto até meio salário, 10% nas de meio a um salário, e 3,5% nas de um a dois salários.
Nas outras faixas, a taxa de analfabetismo prosseguiu em queda, passando de 1,2%, na classe de dois a três salários mínimos, a 0,3%, na de cinco salários mínimos ou mais. Na faixa entre 15 e 19 anos, a taxa de analfabetismo atingiu 2,2% em 2010, mostrando uma redução em relação a 2000, quando era de 5%.
Já no contingente de pessoas de 65 anos ou mais, este indicador ainda é elevado, alcançando 29,4% da população nesta faixa de idade em 2010. (C.S.)
“Conheço as letras, mas não sei juntar”
Dona Florisbela Alves da Silva, de 75 anos, lamenta não ter aprendido a ler e escrever. A vida dura no pequeno município de Benedito Leite, no Maranhão, não lhe deu oportunidade para tal. No lugarejo não tinha professor e a escola era muito longe.
Mas ela sempre soube o valor que a leitura tem. E por isso há 35 anos veio para Goiás com o objetivo maior de dar aos filhos a oportunidade que ela não teve. Os 14 filhos estudaram e dois têm curso superior.
A dona de casa conta que se sente triste em várias ocasiões, quando precisa recorrer a alguém para decifrar os sinaizinhos que formam as palavras. Como para fazer uma ligação telefônica, por exemplo. “Eu até conheço as letras, mas não sei juntar para falar as palavras.” Ela nem assina o próprio nome, quando é preciso, imprime a digital.
Apesar da deficiência de leitura, Florisbela não se intimida quando precisa sair, resolver suas coisas na rua. Moradora no Setor São Judas Tadeu, ela vai ao Centro ou em outros locais. “Eu vou a todo lugar. Sei pegar o ônibus pelo número, que já decorei, o Câmpus-Centro é o 268. E também pergunto para as pessoas, se for preciso.”
A senhorinha de 75 anos até lamenta sua deficiência de leitura, mas a alegria de viver está sempre estampada em seu rosto tranquilo e risonho. Hoje, com os filhos criados, a certeza de ter dado a eles a oportunidade que ela não teve lhe deixa com a consciência leve. (Cezar Santos).