Compreender a terminologia é refletir que as línguas diferem naquilo que devem expressar, e não naquilo que podem expressar, argumenta Jakobson (1969). Partindo desse pressuposto é pertinente entender que a terminologia é o estudo do termo, e dessa forma entender que as línguas têm aspectos dos fenômenos sociais e históricos que representam conjuntos variados de hábitos e costumes de comportamento verbal, isto é, nos padrões de comportamento linguísticos tidos por aceitáveis pela comunidade, determinam um certo vínculo entre o código linguístico em si e uma determinada visão de mundo estruturada pelo complexo língua e cultura. A língua é um repositório de uma herança de uma tradição do que se diz e do que não se diz. A língua como fator social e histórico representa tradições e o vínculo entre o código linguístico e a visão de mundo não é absoleto, mas uniforme, não é estável, mas varia e se reconfigura a toda hora no tempo e nos espaços coletivos e individuais argumenta Aubert (1993). Contudo língua não se congela é viva, pulsante, discute Silva (2008).
Para Barbosa (1989) Terminologia é um conjunto de palavras técnicas e científicas que constituem o vocabulário específico de uma ciência de uma tecnologia, de um pesquisador ou grupo de pesquisadores, ou de uma área de conhecimento. Qualquer disciplina e, com maior razão, qualquer ciência tem necessidade de um conjunto de termos rigorosamente definidos pelos quais desigina as noções que são úteis: esse conjunto de termos constitui, pois, a sua terminologia e o que chamamos de área de especialidade e vocabulário técnico científico que ao nosso entendimento requer um avanço desse tipo de obra no Brasil. Como concebê-los e como denominá-los tem sido árdua tarefa. Basta lembrar, a variedade de denominações utilizadas: vocabulário, dicionário terminológico, dicionário especial, dicionário técnico, vocabulário técnico-científico, dicionário de língua de especialidade, dicionário de língua científica ou técnica, etc.
A informação terminológica precisa de uma elaboração linguística documentária para procedimento específico de construção de produtos e documentários, uma vez que cada povo requer desse recurso para interpretar o que de novo as palavras trazem.
Note-se, por exemplo que a terminologia trata dos termos científicos e tecnológicos, enquanto unidades terminológicas, resultando num dicionário de termos técnicos enquanto o dicionário de língua se encarrega de estudar os vocábulos e os vocabulários de normas linguísticas dando lhes tratamento específico e o glossário registra definição pessoal dentro de um texto. Se a lexicografia que é o estudo dos dicionários tem a função de definir, decodificar a da terminologia é de nomear, preenchendo, pois, uma função de codificação. Nesses termos, por exemplo, o dicionário de língua considera pertinentes as variações diacrônicas, diatópicas, diafásicas e diastráticas; os vocabulários técnico-científicos situam-se numa perspectiva sincrônica (eventualmente diacrônica), não lhes sendo pertinentes as variações diatópicas e diastráticas (ressalvados os casos caracterizados como fenômenos de socioterminologia); definem-se, contudo, por uma rigorosa perspectiva sinfásica, própria de um tecnoleto, representativa de um universo de discurso; um glossário, a seu turno, é sincrônico, sintópico, sintrático e sinfásico pondera Barbosa In Alves (1996).
Nesse sentido, a terminologia precisa estar em consoante à revolução que o país está vivendo. O termo (unidade terminológica) ao associar denominação e noção constitui uma unidade referencial. Na terminologia, uma palavra desigina um determinado objeto porque opera com propriedade e características, remetendo a determinados universos de valores consubstanciados nos discursos de especialidade.
Cintra et al in: Alves (1996) discutem que a terminologia tem como objetivo organizar e harmonizar as noções ou conjuntos de noções dos domínios específicos do conhecimento. Através de procedimento sistemático seleciona e/ou cria termos para as noções, relacionado-os através de definições. Obtém-se, desse modo, repertórios ou listas de termos especializados de um domínio particular, acompanhados de definições que remetem o termo ao seu referente. Tais listas apresentam-se como classificações científicas conceituais, podendo ser reagrupadas segundo uma classificação alfabética ou temática ao passo que os dicionários de língua são organizados de forma alfabética numa sequência de A à Z. Embora, na atualidade, os dicionários terminológicos também são estruturados de forma alfabética numa sequência de A à Z.
Como a terminologia é o estudo dos termos, e os termos estão ligados ao crescimento social podemos identificar o termo como designação estruturado a partir de uma unidade linguística, de um conceito definido em uma língua de especialidade. O termo é, portanto, uma unidade lexical com conteúdo específico dentro de um conteúdo específico. Destarte pensar numa coerência entre a evolução social que ocorre em uma sociedade e principalmente em países emergentes e uma política terminológica em consoante com essa evolução.
A terminologia é uma ciência em ascensão, porém ainda pouco estudada. Se considerarmos que a escrita era privilégio de poucos e os manuscritos não eram abundantes e os alfabetizados gozavam de grande prestígio e poder ao longo da história e a distância entre os povos e a dificuldade de locomoção favoreciam o isolamento social e a variação linguística e o multilinguismo, dessa forma, o termo, na verdade, era entendido como uma palavra e não como área de especialidade. Barros (2004) diz que com a segunda revolução industrial no século XVIII e XIX, o desenvolvimento técnico e científico produziu inúmeros engenhos que revolucionaram o sistema produtivo, as atividades artesanais deram lugar às grandes fábricas. Com isso, organizações sociais surgiram para defender o interesse das classes e consequentemente uma nova legislação foi criada e com ela novos hábitos sociais se implantaram surgindo os vocabulários técnicos científicos para conversar com cada especialidade. O universo lexical das línguas se transformou e se ampliou levando nessa onda a ampliação dos estudos terminológicos.
A escola passou a servir aos interesses da sociedade industrial com o papel de difundir uma nova língua e uma nova terminologia necessária ao bom desempenho do trabalho.
O lugar do termo ganha destaque nesse século XX com o surgimento da globalização e a política econômica do governo brasileiro. A terminologia ganha destaque por se preocupar em transmitir conhecimento sobre a natureza multidisciplinar e poliédrica dos termos, na qualidade de unidades que constituem o foco da terminologia, tendo como principal objetivo levantar, selecionar, analisar e tratar de termos apresentados em forma de vocabulário, léxico ou dicionário, argumenta Barros (2004).
Léxico é o conjunto de unidades linguísticas pertencente a uma sociedade, o léxico como repertório de palavras das línguas naturais traduz o pensamento referente à sociedade no decurso de sua história, razão por que estudar o léxico implica também resgatar a cultura. Clas In Isquerdo e krieger (2004 p. 235) comenta que
a comunicação especializada e a transmissão de conhecimento não estão simplesmente situados no abstrato e não vivem, sobretudo, fora da língua, mas bem diretamente na análise semântica, na metáfora e na metonímia, ela pertence à língua natural.
A linguagem cria critérios e a estruturação é linguística, consoante ao termo, este é basicamente entendido numa estrutura usual que os falantes fazem da língua. A terminologia não pode ser uma entidade à parte, uma ideação autônoma, de certa forma, está ligada à realidade linguística em geral, à tomada de conhecimento como qualquer outra informação, já que a conceitualização relata infalivelmente uma experiência, um conjunto de conhecimentos prévio, um grau de conhecimento dos fenômenos. Os termos são unidades de conhecimento bem como as outras palavras, com as quais compartilham alguns atributivos pertencendo a uma área particular, discute Clas In Isquerdo e krieger (2004).
Michaelis (1998) diz que a palavra é normalmente definida pelos dicionários de língua como um conjunto de sons articulados, de uma ou mais sílabas com uma significação. Ela é uma unidade léxica, um signo linguístico composto de expressões e de conteúdo que pertence a uma grande classe gramatical (verbos, substantivos, adjetivos, conjunções, etc.) enquanto as unidades terminológicas têm como objetivo de estudo a classe dos substantivos.
Nesse sentido os termos e os vocábulos também são palavras e unidades lexicais. O termo que é o estudo de uma área de especialidade é mensageiro de valores pessoais e sociais que traduzem a visão de mundo do homem enquanto ser social. Na sociedade moderna, esse pensamento ganha força no sentido que as palavras vão surgindo pela necessidade que o homem tem de se informar e se tornar leitor, conhecedor da palavra manifestada.
A produção cientifica e técnica no mundo globalizado é abundante e a circulação das informações rápida. Pesquisadores empenham-se em fazer avançar a ciência e a tecnologia, divulgam o resultado de seus trabalhos, produzindo uma documentação variada em diferentes línguas. A transmissão do fazer faz-se por meios de textos que possuem características específicas em nível sintático, semântico, pragmático, semiótico e, notadamente, lexical, uma vez que é, sobretudo, por meio de uma terminologia própria que esse tipo de texto vincula seus conhecimentos, afirma Barros (2004).
O termo como elemento lingüístico, e não apenas como módulo conceitual que integra as comunicações profissionais com unidades lexicais especializadas, ao serem analisadas em seus reais textos de ocorrências, sofre todas as aplicações sistêmicas, semânticas e pragmáticas daí decorrentes, compreendendo, por exemplo, processo de variação e sinonímia. Para Clas In Isquerdo e krieger (2004) é preciso compreender que o termo comporta-se de modo semelhante às unidades do chamado léxico geral, e que o léxico especializado não constitui uma língua à parte, ora se comporta como uma palavra no âmbito da macro e micro estrutura do dicionário de língua que é um produto do léxico geral.
Contudo, essas unidades de conhecimento, chamados termos, são unidades linguísticas e que, consequentemente, podem passar de uma área à outra da língua comum à língua de especialidade e vice-versa, e nela adquirir ou perder uma significação mais específica. Então, os termos estão nos textos e a terminologia torna-se um estudo textual e com os avanços informáticos que conhecemos. A criação de bases de dados de todo o tipo, tornou-se o recurso do documentário primordial para pesquisa da área de especialidade. Clas In Isquerdo e krieger (2004 p.232) argumenta que
A única diferença que se pode inscrever nessa posição palavra/termo é, sem duvida, a diferença não de natureza, mas de conteúdo parcial, que faz com que valor semiótico de uma palavra apoie-se em um condicionamento social, enquanto aquele do termo se baseia em um condicionamento científico que se inscreve em uma teoria ou em um modelo e tem uma certa qualidade de verificabilidade.
No dicionário de língua, as palavras arroladas, ou seja, que ganham entrada chamados verbetes são consideradas palavras como, por exemplo, “peita”; é notório encontrar nesta entrada várias acepções estruturadas na micro estrutura do dicionário de língua. Na área de especialidade, ou seja, no campo da terminologia que leva em conta o termo, essa entrada “peita” recebe o nome de termo, uma vez que pertence não ao conjunto geral da língua, mas a priori a uma área de especialidade, nesse caso termo juramentado. Barros (2004 p.63-64) discute
Os vocabulários registram termos, ou seja, modelos de realização lexical em nível das normas de universo de discurso especializados e os dicionários de língua registram unidades lexicais em todas as suas variações morfossintáticas e em todas as suas acepções. Assim, o verbete de um dicionário de língua portuguesa do Brasil que tem como entrada a unidade lexical ferro pode registrar até seis acepções diferentes, mais doze termos complexos cuja base é o lexema ferro (ex.: ferro alfa, ferro batido, ferro beta, ferro delta, ferro doce, etc.) e ainda dez expressões idiomáticas que giram em torno dessa mesma unidade lexical (Ferreira, 1986, p. 771). Por sua vez, um dicionário terminológico especializado em metalurgia, por exemplo, registraria exclusivamente a acepção que a unidade terminológica ferro tem nessa área do saber.
Os termos são levantados para formar um vocabulário e esse por sua vez faz parte de uma ciência ou arte, segundo Alves (1996 p. 34) “O vocabulário busca ser representativo de um universo de discurso -- que compreende, por sua vez, n discursos manifestados --, pelo menos; configura uma norma lexical discursiva.”
O vocabulário de língua designa apenas uma área de conhecimento ao passo que o dicionário de língua abrange todas as artes de ciências e o léxico em geral então na área de especialidade surgem os termos, palavras que designam termos específicos, como a medicina, a botânica, o comércio, etc. e ocupa um lugar de destaque.
Hoje, por exemplo, no Brasil, há uma grande necessidade do estudo dos termos, pois o país entrou num mundo globalizado, tem sua língua e sua cultura em ascensão internacional, vê-se precário ao conhecimento da terminologia. Se exportamos cultura, se exportamos língua, se exportamos produtos e se a todo momento importamos também cultura, língua, produtos, é necessário a implantação da terminologia no currículo da educação brasileira. Se as indústrias estão cada vez mais investindo em tecnologia e isso com incentivo do governo, é necessário que essa mão-de-obra que faz a produção conheça os termos usados por sua área específica para que não haja prejuízo.
O trabalho terminológico em uma empresa assume uma relevância proporcional ao seu tamanho e possui contornos variáveis, de acordo com o tipo da mesma. Sabiamente, no entanto, ele é importante em qualquer caso, pois é através do conhecimento do termo que a empresa terá uma fácil comunicação entre administração e funcionários, destes entre si, com os seus fornecedores e com seus clientes, tendo sempre como resultante uma maior produtividade aliada à qualidade. Barros (2004 p.25) argumenta que
A evolução da ciência tem provocado, ao longo da história da humanidade, profundas transformações no modo de viver, de agir, de pensar, de produzir, de ser dos povos, conduzindo a diferentes formas de organização social e política, a novos sistemas de produção.
Paralelamente a esse processo, desenvolve-se um outro, de natureza linguística, o termo, cada descoberta o invento recebe um nome. Assim o processo de desenvolvimento terminológico é tão importante quanto o econômico ou o social, onde a criação neológica é intensa e se dá pela nuances do léxico em geral. Atualmente no Brasil, por exemplo, vemos mudanças socioeconômicas e políticas significativas que ganham destaque no mundo.
A nossa língua está em evolução e não tem fronteiras, essa repercussão vocabular ganha hegemonia a cada nova invenção, a cada nova situação, a cada nova atividade, a cada novo produto, a cada novo serviço, a cada nova lei, surge assim novos termos e a necessidade de a comunidade linguística dominá-los; assim criam-se novas perspectivas com o desenvolvimento da indústria da língua, organizam-se redes internacionais que facilitam a cooperação e o intercambio científicos e dessa forma a terminologia ganha novas dimensões e articula-se no plano internacional, discute Barros (2004). Platão em sua época aprendeu a pensar na origem das palavras e a justeza dos nomes assim não se limitou em compilar palavras, mas a refletir sobre.
Gusdorf (1995) já argumentava que o advento da palavra é que faz o homem se manifestar e mostrar sua soberania. O homem interpõe entre o mundo e ele próprio, a rede das palavras e torna-se por via disso o senhor do mundo; valendo-se dela o homem nomeia e caracteriza o mundo que o rodeia, exerce o seu poder sobre o universo natural, registra e perpetua a cultura. O léxico traduz o pensamento da humanidade no decurso de sua história e o termo como reflexo da evolução dessa sociedade. Clas In Isquerdo e krieger (2004) comenta que a terminologia é o estudo do léxico, porém, científico da unidade lexical em diferentes contextos de uso profissional.
Como pudemos observar, a terminologia é uma ciência ainda em construção e precisa ser vinculada à escola para que a sociedade compreenda a importância dos dicionários técnicos para a evolução do país e em consequência a hegemonia da língua portuguesa no mundo moderno. Claro que estamos longe da consolidação de um consenso denominatório em relação à terminologia.
Levantamos, neste trabalho, algumas considerações sobre a terminologia que poderiam, talvez, auxiliar nas reflexões sobre a delimitação de tais conceitos e denominações e uma possível entrada dessa área de especialidade em discussão mais aberta ao estudo e problemática que enfrenta o termo. Assim, o Brasil precisa construir o saber de sua comunidade linguística de forma a garantir o conhecimento geral e específico, entre ciência e técnica, ou mesmo a visão de tecnologia como mera ampliação da ciência deve ser superada, de tal forma que a escola incorpore a cultura técnica e a cultura geral na formação plena dos sujeitos e na produção contínua de conhecimentos. Não se pode crescer intelectualmente um país sem primeiro colocar a comunidade linguística desse país em consoante ao seu desenvolvimento.
Acreditamos que este trabalho Terminologia Como Ciência Fundamental à Sociedade Moderna corresponda ao que a comunidade acadêmica, ainda carente de obras voltadas a estudos de léxico, espera e necessita para aprofundar seu conhecimento sobre a constituição e o comportamento da palavra e do termo, assim como desenvolver teorias e práticas lexicográficas e terminológicas, referentes, seja à língua geral, seja à especializada.
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Artigo produzido por Adriano David de Mendonça, Daniel Moreira Tavares, Daniela Scardigno, Erly Rosa da Silva, Fernando Marciano Silva. Geane Cristina de Oliveira, Geosman Franncisco Leite Junior, Ledijanes da Silva Pinheiro, Taynan Cristina de Paula.