Por Leandro Neves
Pesquisando sobre centros de inovação no Brasil encontrei a cidade mineira de Santa Rita do Sapucaí. Com população estimada em 35.000 habitantes, esta cidade é conhecida como o Vale da Eletrônica. Alguns, mais otimistas, denominam-na de “Vale do Silício” brasileiro. Fiquei muito curioso para descobrir o que levou esta cidade a se destacar como um dos municípios que mais realizam inovação no Brasil. É o que se segue...
Luiza Rennó Moreira era mais conhecida na cidade como Sinhá Moreira. Nasceu em 1907. De família rica, pode se beneficiar e ter sua educação na então capital federal, Rio de Janeiro. Casou-se com um diplomata, tendo uma oportunidade rara à época: viajar pelo mundo. Morou no Japão, e vivenciou o rápido desenvolvimento da indústria eletrônica, devido à exportação de aparelhos de rádio no Japão pós-guerra.
Em 1958, ao voltar para o Brasil, Sinhá Moreira fundou a Escola Técnica de Eletrônica - ETE, sendo esta a primeira escola técnica da América Latina e considerada a semente do Vale da Eletrônica. Suas atitudes transformaram uma pequena cidade produtora de café e leite em um local de excelência no desenvolvimento de soluções de Tecnologia da Informação e em Eletrônica.
Hoje, na área de educação, Santa Rita do Sapucaí conta com diversas instituições de ensino que se destacam na área de inovação tecnológica como o Inatel – Instituto Nacional de Telecomunicações e a FAI – Faculdade de Administração e Informática. Na educação, a prefeitura tem adotado ações específicas onde se destacam o ensino do empreendedorismo já no ensino fundamental e o sistema de pré-encubação nas escolas.
A cidade conta também com cerca de 130 empresas de pequeno e médio porte que faturaram em 2008 aproximadamente um bilhão de reais. Estas empresas se beneficiam também de duas incubadoras, de um centro empresarial, de subsídio de aluguéis para empresas inovadoras, e até da doação de terrenos para empresas que desejarem construir sua sede própria.
As empresas também se associaram e formaram um importante Arranjo Produtivo Local (APL) de eletroeletrônicos. Neste modelo de negócios, cada uma das várias empresas de uma região se especializa a fim de produzir os componentes necessários para o atendimento de toda a cadeia de produção. Isto gera uma maior especialização, maximizando a eficiência e a eficácia de cada célula produtiva empresarial.
Ao analisarmos o setor de Tecnologia da Informação no Brasil, podemos observar que ele está ignorando a atual crise mundial. Dados levantados indicam que a produção de placas de impressão cresceu 30% desde o início do ano. Em 2008, o setor faturou 28% a mais em relação ao ano anterior. E ainda existem cerca de 70 mil vagas em aberto no setor de eletroeletrônicos em todo o território nacional.
Fiquei com estas informações martelando a cabeça, tentando imaginar um modelo que represente o desenvolvimento de Santa Rita. Ainda não cheguei a uma conclusão, mas constatei que as sementes de nossa Universidade foram lançadas há apenas 10 anos; que nosso Estado já conta com importantes APLs em rápido desenvolvimento; que nossos cursos se interrelacionam com as APLs goianas. Devemos, então, cuidar do desenvolvimento da UEG tendo a certeza que esta árvore logo renderá bons frutos.
(Leandro Neves é técnico administrativo da UEG, lotado na Gerência de Inovação Tecnológica da Universidade. lneves@ueg.br)