Prata da casa. É assim que poderia ser chamado o professor Dr. Renato Dias na Universidade Estadual de Goiás (UEG). Graduado em História na Unidade Universitária de Ciências Socioeconômicas e Humanas de Anápolis e hoje docente dos cursos de História e Pedagogia do Câmpus Nordeste, com sede em Formosa, ele leciona na universidade onde uma dia frequentou como aluno.
Casos como o do professor Renato ilustram bem o impacto e influência da UEG na vida dos goianos ao longo de seus 22 anos de atuação no estado. Militante de pastorais sociais, do movimento estudantil, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e, finalmente, da autogestão social, Renato conta que ingressou na UEG em 2003 motivado pelo engajamento que vira ali.
Na entrevista a seguir, o professor fala sobre sua trajetória desde a graduação até a docência na UEG.
Entrevista – Professor Renato Dias
Comunicação Setorial – O que te levou a escolher o curso de História?
Prof. Renato – É possível pensar em muitas coisas... Fica difícil, inclusive, dizer o que foi determinante. Em todo caso, indo da infância até a graduação na UEG, a mim pelo menos quatro situações parecem mais significativas: o cotidiano cheio de histórias em que vivia desde muito cedo; o engajamento na luta social; os testemunhos de amigos que cursaram História e, finalmente, o desejo de contribuir, em alguma medida, para que a vida fosse melhor. Isso em síntese, claro, já que são muitos os caminhos que nos levam a decisões desse tipo.
Comunicação Setorial – Como foi sua transição para o mercado de trabalho?
Prof. Renato – No meu primeiro ano cursando História, quando ainda trabalhava em uma farmácia hospitalar, fui aprovado em concurso público, na Prefeitura de Anápolis, como auxiliar de educação. Era uma função para a qual se exigia Ensino Médio, mas que já me aproximava da condição futura de professor. Após essa experiência na educação infantil, como também no quadro técnico da Secretaria Municipal de Educação, fui trabalhar no Museu Histórico Alderico Borges de Carvalho. O que contribuiu mais ainda na minha formação. Em 2007, concluída a graduação, já fui aprovado em processo seletivo para Secretário Executivo da Casa da Juventude Pe. Burnier – instituto de formação, pesquisa e assessoria – mudando-me para Goiânia e trabalhando lá até o ingresso no mestrado em 2008. Em tudo isso, sem dúvida, a formação conquistada na luta e no curso de História, contribuíram muito.
Comunicação Setorial – Ao decidir se dedicar à carreira de docente, quais especializações fez?
Prof. Renato – Especializei-me em Juventude no mundo contemporâneo, na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), e concluo, ainda esse ano, uma Formação em Psicanálise e uma Pós-graduação em Psicopatologia psicanalítica pela Academia Goiana de Psicanálise/Casa Freud, em Anápolis.
Comunicação Setorial – Em quais linhas de pesquisa atuou durante programas de pós-graduação stricto sensu?
Prof. Renato – Quanto ao mestrado, sou mestre em História pela Universidade Federal de Goiás, onde pesquisei a Revolta Camponesa de Trombas e Formoso, atuando na linha de pesquisa Sertão, Regionalidades e Projetos de Integração. O doutorado, também na UFG, foi na Sociologia, na linha de pesquisa Cultura, Representações e Práticas Simbólicas, refletindo sobre as representações do nacionalismo na obra de Lima Barreto.
Comunicação Setorial – Como a História impacta na vida das pessoas no dia a dia? Qual a importância do curso de História para a sociedade goiana e brasileira?
Prof. Renato – A História impacta na vida tanto na dimensão cotidiana, em inúmeros detalhes do nosso dia a dia, como também em uma concepção mais ampliada. Isso no que diz respeito a historiografia – escrita acerca da história – como também no conjunto de acontecimentos e processos situados no tempo que convencionamos chamar assim. É por meio dessas, em grande medida, que nos situamos em relação a quem somos, em que avançamos, retrocedemos e no que ainda é necessário. Elas estão relacionadas a narrativas, interesses, valores, concepções de mundo e tem, tenhamos ou não consciência, implicações políticas, sociais, culturais. Desse modo, ampliando nosso olhar, elas ainda possibilitam – em certa medida – que superemos o realismo interessado, pragmático, conservador, que afirma ser tudo “sempre assim”, e pode, com algum esforço, acredito, ampliar nossos horizontes de expectativas quanto ao futuro. Seria muito bom se, olhando no retrovisor, no caso da realidade goiana e brasileira, estivéssemos conscientes, ao menos, do quanto perpetuamos heranças da colonização, da escravidão, da criação do Estado, da ditadura militar e tantos outros acontecimentos que nos trouxeram até o momento atual. Sem dúvida, infelizmente, uma das maiores tragédias de toda a nossa história. O curso de História, portanto, pode e deve ter muito a nos dizer sobre nós e nos convidar à ação cotidianamente.
Comunicação Setorial – Ao olhar para o passado, para a graduação, qual recordação vem à tona?
Prof. Renato – Lembro-me de muitas conquistas, assim como de dificuldades enfrentadas. Porém, em todas essas situações, encontrei boa companhia. Não é possível esquecer da irreverência e determinação da turma em que ingressei. Éramos, e muitos de nós, certamente, apesar de espalhados por aí, ainda somos pessoas de muitos sonhos. Foi a universidade naquele momento, sem dúvida, lugar certo para tantas partilhas. Lembro-me bem, ainda, de algumas opiniões que tinha, e que refiz com o tempo, mas também das convicções que reafirmei e que, na realidade, definem, em boa medida, quem sou.
(Comunicação Setorial|UEG)