A pandemia do coronavírus tem alterado rotinas, maneiras de se relacionar e de trabalhar. O isolamento social passou a ser uma arma contra o coronavírus. Não diferente, alunos e professores da Universidade Estadual de Goiás (UEG) tiveram que se adaptar rapidamente a essa nova realidade, buscando soluções para que o aprendizado continue acontecendo por meio de aulas remotas.
A aluna Irany Pereira Martins, 27 anos, que está cursando o 3º período do Curso de Pedagogia na Unidade Universitária de Campos Belos, no nordeste goiano, é um exemplo de superação de dificuldades. Ela reside no Povoado Sobradinho, a 21 quilômetros de distância da cidade. A rotina de Irany se divide entre o trabalho na roça, plantando e colhendo mandioca, milho e arroz com a família, e as idas à cidade duas vezes por semana para buscar ajuda de um amigo que empresta o sinal de internet para que ela faça as atividades propostas pelos professores.
"Tenho compromisso e vontade de estudar e me formar, não só com objetivo de ter um diploma mas ser uma futura profissional docente preparada e capacitada", diz Irany. Ela explica que chegar à universidade não foi fácil, mas é um sonho que está realizando e que o esforço vale a pena.
De acordo com o professor Rosolindo Neto de Souza Vila Real, das disciplinas Educação Especial e Inclusão e Atividade de Enriquecimento e Aprofundamento, mesmo com as dificuldades, Irany é a aluna mais pontual com as atividades. "O esforço dela serve de exemplo para os demais alunos do curso", destaca o professor, que também teve que se adaptar a essa nova realidade de ter que ministrar aulas não presenciais. "Como utilizamos o WhatsApp como ferramenta de interação com os alunos, temos que estar atentos para atendê-los assim que nos procuram, pois nem todos têm acesso à internet o tempo todo", explica.
Outro exemplo de superação vem do Curso de Pedagogia da Unidade Universitária de Pires do Rio, no sudeste do estado. Utilizando recursos tecnológicos, o aluno Higor Dias Caetano, de 20 anos, que é deficiente visual, tem participado das aulas e realizado as atividades com tranquilidade. Para acompanhar as mensagens escritas numa rede social, Higor utiliza um software leitor de tela de celulares. As aulas ele acompanha por uma rede social e por uma plataforma de videoconferência. Para fazer as atividades, o aluno recorre a outra tecnologia assistiva para a escrita em braile. Higor diz que o esforço que faz será recompensado quando concluir o curso. "Meu sonho é poder me formar e atuar como professor de apoio e ensinar braile para estudantes com deficiência visual", projeta.
Se por um lado as aulas teóricas são mais simples de serem ministradas remotamente, como ficam as práticas? Da Unidade Universitária de Porangatu, no norte do estado, vem o exemplo da professora Priscila Moraes Lima Assunção. No Curso de Educação Física, dentro da disciplina Ginástica em Academia, a professora teve que usar a criatividade para que os alunos pudessem colocar em prática as teorias. Segundo ela, a alternativa foi gravar vídeos curtos para demonstrar os exercícios para os alunos. Respeitando os cuidados de higiene e o uso de máscara, ela vai a uma academia da cidade para gravar as vídeo aulas que são postadas numa plataforma virtual. Um questionário sobre o vídeo é respondido pelos alunos e, no horário da aula, eles podem sanar as dúvidas por videoconferência ao vivo.
Já o professor Ademir Luiz, do programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado (Teccer) planejou e está colocando em prática a disciplina Escrita Criativa, em parceria com a União Brasileira de Escritores de Goiás (UBE-GO), da qual é presidente. A disciplina, que antes era presencial, teve que ser transformada e agora é ministrada a distância. O professor utiliza a biblioteca de casa para gravar as vídeo aulas. Com criatividade, Ademir chama a atenção dos alunos para aspectos importantes da escrita criativa. As aulas despertaram a atenção do Conselho de Cultura do Estado de Goiás, que entrou em contato com o professor para transformá-las em atividade oficial do calendário da Secretaria Estadual da Cultura (Secult).
Esses exemplos mostram que o isolamento provocado pela pandemia do coronavírus não foi motivo para que alunos e professores parassem com as aulas e, com criatividade, permanecem unidos na busca pelo conhecimento.
(Dirceu Pinheiro|Comunicação Setorial|UEG)