A Constituição de 1988, em seu artigo 205, determina que o direito de acesso à educação é universal. Tendo isso em vista e considerando que o Estado de Goiás possui ampla diversidade cultural, étnica, social e econômica, a Universidade Estadual de Goiás (UEG) promove a inclusão em suas diversas expressões.
Dentro de um universo de mais de 8 milhões de estudantes em faculdades, apenas 0,5% é de pessoas com deficiência e só 51 universidades brasileiras possuem 1% ou mais de estudantes com alguma deficiência. A UEG consta no ranking, de acordo com os dados do Censo da Educação Superior de 2018, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC).
A Universidade conta ainda com sistema de cotas em seus processos seletivos desde 2005, sendo uma das pioneiras na implantação dessa política de acesso no Brasil. Hoje é reservado 45% das vagas regulares ofertadas para cotistas: 20% para estudantes de escola pública, 20% para negros e 5% para indígenas e portadores de deficiência.
Implantar ações para a inclusão social significa mudar o paradigma sociocultural que considera as diferenças como falhas. O direito de todos à educação - independentemente de origens étnicas, sociais e religiosas, ou de condição econômica ou de deficiência -, deve ser o princípio básico de qualquer debate sobre inclusão na universidade.
No entanto, na prática, o que ainda se vê no meio acadêmico – como nos mais diversos âmbitos sociais – é o preconceito que deriva da falta de informação.
A UEG entende que a formação universitária é essencial para se alcançar uma formação profissional e que, portanto, é necessário equacionar seu caráter inclusivo. A Universidade então recebe todos, não importando sua origem, condição física e orientação religiosa ou sexual.
Diversidade de Gênero
Thomas Reis, aluno egresso da UEG - Câmpus Eseffego, é transexual e conta que no princípio, sua experiência foi cheia de altos e baixos. Havia dificuldade com banheiros, dificuldade com o uso de pronomes, alguns professores eram despreparados quanto a questões de gênero, mas por outro lado, a secretaria foi sempre receptiva quanto a seu nome social.
De acordo com ele, a Universidade foi de extrema importância em sua construção como pessoa. "Fui o primeiro homem trans a se formar na UEG e espero não ter sido o último. Universidade é local de diversidade, é preciso entender isso", afirma.
O trabalho de conclusão de curso de Thomas abordou a evasão de pessoas transexuais dos ambientes escolares, a falta de discussões quanto as questões de gênero, o despreparo de professores, questões religiosas, machismo e etc. "Faço parte de uma porcentagem privilegiada de trans que não sofreu agressão, que não teve que passar pela prostituição, que não foi expulso de casa. Eu quis, a partir do meu trabalho, mostrar a realidade que não é discutida, não é tratada, a realidade da marginalização que milhares vivem", completa.
Thomas diz que seu trabalho teve uma recepção inesperadamente positiva, tanto por parte dos professores, quanto por parte dos alunos. "Precisamos disso, trabalhar com a sensibilidade para que, como futuros professores, consigamos enxergar a fragilidade do outro", reitera.
Dia Internacional da Pessoa com Deficiência
Na semana do dia 3 de dezembro celebramos o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. A data tem o objetivo de informar a população sobre os assuntos relacionados a deficiência, seja ela física ou mental e busca conscientizar as pessoas sobre a importância de inserir as pessoas com deficiência em diferentes aspectos da vida social, como a política, a econômica e a cultural.
A UEG promove a inclusão de alunos com deficiência em seus vários câmpus através de ações e da disponibilização de professores de apoio para o acompanhamento de alunos com deficiência física ou mental. É o caso de Thiago Batista Rodrigues, outro aluno egresso do Câmpus Eseffego que concluiu o curso de Educação Física em 2019.
A conquista de Thiago só foi possível pela rede de apoio que foi estabelecida entre família, universidade, Núcleo de Acessibilidade Aprender sem Limites (Naaslu), professores, professora de apoio, profissionais da saúde e comunidade.
Durante os seis anos que o discente frequentou a instituição foram elaboradas estratégias e feito acompanhamento pedagógico e adaptações no processo de ensino-aprendizagem que favoreceram o desenvolvimento formativo, humano e social do estudante. Um dos principais avanços do discente foi em relação à autonomia nos aspectos da relação com o conhecimento científico.
Durante o curso ocorreram diálogos com professores, que buscaram realizar adaptação de provas e avaliação diferenciada nas provas escritas, a fim de assegurar que Thiago pudesse estudar em igualdade de oportunidades com os demais alunos do curso.
A professora do curso de Educação Física do Câmpus Eseffego, Kelly Cristiny M. Evangelista, afirma que pessoas deficientes devem ter sua dignidade preservada e o direito de desfrutar das mesmas experiências que qualquer pessoa. "A Universidade deve caminhar para ser menos exclusiva, contemplando as diversidades culturais, de classe, étnico-raciais, estéticas, de gênero, de histórias, sexuais, religiosas, de experiências e olhares. Para isso é importante investir na eliminação de barreiras atitudinais, desenvolver acessibilidade e investir em formação continuada para buscar qualidade do acesso, permanência e sucesso dos acadêmicos com deficiências e necessidades educacionais especiais”, afirma.
(Daniel Prates|CeCom|UEG)