Nesta terça-feira, 15 de outubro, é comemorado o Dia do Professor no Brasil. Para homenagear os docentes, entrevistamos 3 professores da Universidade Estadual de Goiás (UEG) de diferentes áreas e com experiências distintas na docência sobre a profissão, os pontos positivos, os desafios e o trabalho com pesquisa.
Do Curso de Cinema e Audiovisual, ministrado no Câmpus Laranjeiras da UEG, a entrevistada foi a professora Geórgia Cynara. O professor Fabrício Barreto Teresa é docente no Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais do Cerrado. Do Câmpus Pires do Rio, a entrevistada foi a docente do Curso de Geografia, agora aposentada, professora Maria do Socorro.
Início
Para a professora Maria do Socorro, tornar-se professora foi a concretização de um desejo que já sentia desde que começou a trabalhar em uma escola ajudando a rodar provas, contar histórias para crianças e organizar as brincadeiras no recreio. Segundo a professora, primeiro veio a prática e depois, a teoria, pois foi no contato com a realidade de uma escola que decidiu que seguiria a profissão. “Se eu tivesse que começar a minha caminhada, o projeto de vida agora, eu não saberia trilhar outro caminho a não ser a docência”, afirmou.
Com o professor Fabrício, a experiência foi bem diferente. Quando entrou para a Faculdade de Ciências Biológicas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), tinha a certeza de que não queria ser professor, certeza esta que o levou a cursar a modalidade bacharelado ao invés da licenciatura.
Tudo mudou quando decidiu que iria vencer o bloqueio da timidez e passar a procurar oportunidades de ministrar aulas. A primeira surgiu quando Fabrício e outros colegas criaram um projeto de extensão para ensinar sobre os animais do zoológico da cidade. “No fim da graduação, já mostrava muita desenvoltura com o ensino. E as aulas, que antes eram temidas, comecei a adorar a ministrar”, contou. Hoje, faz 14 anos que Fabrício decidiu seguir carreira na docência e atua no ramo.
Professor Fabrício Barreto Teresa com alunos durante um trabalho de campo
Para a professora Geórgia, a docência não começou como um sonho vislumbrado. Sua primeira experiência foi como professora em uma escola de inglês e, naquela época, não enxergava como uma carreira possível. Durante a formação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, Geórgia começou a enxergar a docência como possibilidade de atuação, promovendo minicursos de comunicação dentro de uma organização não-governamental chamada Casa da Cultura Digital.
A terceira experiência foi a que selou o desejo da profissão. Em 2009, Geórgia Cynara começou a atuar na UEG na área de trilha sonora de cinema e audiovisual, mas também ministrando outras disciplinas relacionadas à área. “É algo que foi acontecendo. Na verdade, foi onde eu me realizei”, denotou.
Compartilhar, orientar, comunicar
“Transmitir conhecimento” já não é um termo que consegue dar conta do que é, de fato, lecionar, já que denota uma via direta do professor para o aluno, sem troca. “Para mim, lecionar é compartilhar. Compartilhar não somente conhecimento sobre o objeto de estudo da disciplina, mas também experiências sobre outros aspectos da vida acadêmica e não acadêmica”, sustentou o professor Fabrício. Além de buscar um diálogo com os alunos, ele procura utilizar as aulas para mostrar a importância da ciência na rotina e nas relações sociais dos estudantes.
Como aluno na cidade de Pereira Barreto, no interior de São Paulo, a maior inspiração para Fabrício foi o professor César, que o motivou a seguir o curso de Ciências Biológicas. “Ele foi um marco fundamental para o delineamento da minha trajetória na vida pessoal e profissional”, relembrou.
A principal influência para a professora Geórgia Cynara foi o educador Paulo Freire. Segundo Geórgia, ele demonstrou a importância de perceber a realidade do aluno para que o ensino e a aprendizagem possam ter como base uma comunicação entre professor-aluno, “para que a gente possa construir uma educação que realmente seja coerente com a realidade do aluno, que realmente seja uma fator de empoderamento, cidadania, dignidade e desenvolvimento humano”, explicou Geórgia.
Professora Geórgia Cynara com o aluno Aristótelis Cardoso na Colação de Grau do Curso de Cinema e Audiovisual. Foto: Alexandre Ferraz
Aprendizados
“Colaborar e participar da formação dos alunos e ver o desenvolvimento deles é o ponto mais importante da minha profissão”, afirma a professora Maria do Socorro. Na experiência de Geórgia Cynara, é importante que o professor tenha flexibilidade e enxergue o potencial de cada aluno, para que as aulas sejam coerentes com a realidade da turma. “A gente tem que ter a flexibilidade para entender pelo que aquela turma se interessa. Qual a realidade daquelas pessoas? A partir da realidade delas a gente trabalha”, reitera Geórgia.
A satisfação em perceber que fez diferença na vida do aluno é uma dos pontos mais positivos da profissão para Fabrício. Além disso, também existe a possibilidade de inovar e praticar formas diferentes de ministrar as aulas. “Essa atividade é muito prazerosa, pois, apesar de exigir grande investimento de tempo, possibilita formar pessoas com capacidade para fazer diferença para a sociedade”, explica.
Desafios
Os desafios não são poucos. Manter-se atualizado e ministrar conteúdo de alto nível faz parte da profissão, mas nem sempre o professor consegue conciliar estas demandas com a carga horária que a atividade demanda. Um outro aspecto dos desafios da docência, que é pouco discutido, é a manutenção da saúde mental do docente. De acordo com a professora Geórgia, "para aquilo que o professor precisa fazer, que é educar o aluno, compartilhar conhecimento, ele precisa estar muito bem preparado emocionalmente, e muitas vezes o professor não tem essa oportunidade”.
A falta de valorização do ofício é uma realidade, não só em Goiás como em todo o Brasil, problema que não atinge apenas as condições financeiras do professor, mas tem prolongamentos na saúde e nas condições para o exercício da profissão.
Professores-pesquisadores
Para além da sala de aula, o trabalho docente também compreende a atuação como pesquisador(a) em projetos de pesquisa. As duas atividades, porém, não estão dissociadas: “A cada aula que eu dou, estou buscando subsídios através da troca com os alunos para as minhas pesquisas. Acho que a docência é uma parte dessa pesquisa”, acredita Geórgia. Atualmente, a professora participa de um projeto de pesquisa que ainda está no início e trata sobre licenciamento musical no audiovisual em plataformas online.
A cada aula que eu dou, estou buscando subsídios através da troca com os alunos para as minhas pesquisas. Acho que a docência é uma parte dessa pesquisa
De acordo com Geórgia, não basta o pesquisador publicar em revistas científicas, ele deve buscar formas de tornar mais acessível o conhecimento gerado dentro da academia, mostrando o valor do trabalho do pesquisador e a importância da remuneração do trabalho com bolsas de estudo e de pós-graduação.
O professor Fabrício acredita ser imprescindível passar para os alunos a busca pela defesa da ciência e da pesquisa na academia: "Isso evita cairmos nas ciladas da pseudociência, charlatanismo e negacionismo científico, algo muito presente atualmente", argumenta. O professor também procura motivar os alunos para o desenvolvimento do pensamento crítico e progressista.
Como pesquisador, Fabrício estuda os impactos ambientais provocados pelo homem em ambientes aquáticos, particularmente na biodiversidade aquática. Existem várias pesquisas em andamento no laboratório, como a que busca entender de que forma a conversão da vegetação nativa em áreas de agricultura e pecuária afetam os peixes. “Também estamos interessados em compreender se podemos utilizar as espécies como indicadores de alterações ambientais, indicadores biológicos, o que pode ser útil para o monitoramento rápido e barato da qualidade da água”, explica o docente.
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(Anna Carolina Mendes|CeCom|UEG)