Pensar e propor soluções para se alcançar um modelo de cidade sustentável, segura e que garanta mobilidade às pessoas que nela vivem é a proposta do 4º Fórum de Mobilidade Urbana e Trânsito e do 4º Seminário de Saúde Pública e Trânsito, promovidos pelo Programa Educando e Valorizando a Vida da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Os eventos acontecem nos dias 23 e 24 de novembro, na Câmara Municipal de Goiânia.
Com o tema #PensarCidades, os eventos têm como foco problemáticas enfrentadas pelas cidades e mobilidade urbana, cujos reflexos incidem sobre a saúde da população e tornam o trânsito um espaço de disputa e violência na já conturbada vida urbana.
“Nós temos um dos trânsitos mais violentos do mundo. Os dados oficiais não deixam dúvidas sobre a importância e a urgência de novas práticas de mobilidade”, analisa Hugo Paraguassu Serradourada, coordenador Geral do EVV.
De fato, os relatórios dos órgãos responsáveis atestam essa situação. De acordo com o Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT), foram pagas 42.500 indenizações por morte e mais 500 mil por invalidez no trânsito, no ano de 2015. Tais números colocam o país em quarto lugar no ranking mundial de mortes no trânsito.
Coletividade x Individualidade
Carros, motos, bicicletas, ônibus e pedestres dividem as vias no dia a dia das cidades. São deslocamentos urbanos que levam sujeitos aos mais diferentes pontos em suas atividades diárias – sejam no trabalho, estudo ou lazer –, por exemplo, em um espaço altamente disputado. “Todos querem o caminho mais fácil e rápido”, observa Camila Dantas, supervisora de exames do EVV.
Nesse sentido, Camila avalia que o transporte particular, em especial os carros, tem vantagem sobre pedestres e meios coletivos. “É a cultura do individualismo, que, infelizmente, também domina o trânsito. As pessoas passam a entender o carro como possibilidade mais viável para o trânsito”, afirma.
Essa visão tem como impacto imediato o aumento da frota. E não é difícil prever o resultado: mais carros nas ruas significa mais trânsito. Para piorar, ainda é muito comum a utilização de carros de forma individual. “Gastamos muito tempo no trânsito, estamos sempre com pressa, os conflitos emergem e as ocorrências e as violências passam a ser rotina em meio ao mar de carros nas cidades”, observa o professor Hugo.
A professora Odália Bispo, coordenadora pedagógica do EVV, coloca mais um ingrediente nessa equação. “O carro é um símbolo de status, um sinal de diferenciação. Você deixa de ser um cidadão comum que divide o transporte coletivo e passa a ser um sujeito diferenciado”, analisa e completa dizendo que essa demarcação de fronteira é resultado de uma miopia social e de uma nação que, desde sempre, buscou separar quem é quem.
Lei de Mobilidade
A Lei 12587/12 rege a mobilidade urbana no país. Em linhas gerais, ela prevê que o interesse coletivo se sobrepõe ao individual, visão que democratizaria o espaço urbano e sua ocupação. Mas não é exatamente isso que ocorre. “Ocupar a cidade hoje é um privilégio”, diz Odália.
A Rede Metropolitana de Transporte Coletivo (RMTC) abrange 18 municípios que formam a região metropolitana, cobrindo uma área de 6.576km², com circulação mensal de 8,4 milhões de passageiros. Nessa área, residem mais de 2 milhões de pessoas, que precisam se deslocar para os mais diversos fins e para todas as direções. Esse contingente populacional é assistido por 268 linhas e 19 terminais de transporte público.
Em contrapartida, a atual frota de veículos individuais na Grande Goiânia é de 1.120.645 carros. Não é preciso muito esforço para perceber que esse número representa quase metade do total de habitantes da região metropolitana. Uma conta que não fecha em um cenário urbano cujo ritmo é marcado pelo tic-tac do relógio e pelos sons vindos dos motores.
É em busca de soluções e respostas que o 4º Fórum de Mobilidade Urbana e Trânsito e o 4º Seminário de Saúde Pública e Trânsito, este uma iniciativa do Observatório de Mobilidade e Saúde Humanas de Goiás (OMSH), trazem para Goiânia especialistas para debaterem as questões que envolvem toda essa complexidade. Os eventos contam com apoio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás.
Entre os nomes que participam das discussões estão a filósofa Márcia Tiburi, as professoras Ermínia Maricato e Irene Quitans e a ministra da saúde de Portugal, Gregória Paixão Von Amann, que irão pensar a cidade da forma como ela deve ser pensada: coletivamente.
(Fernando Matos | CeCom|UEG)