“Celebrar o passado, o presente e o futuro de mulheres que fazem cinema no Centro-Oeste”, esse é o intuito da mostra de filmes Águas-Correntes, que ocorre de 20 a 23 de junho, a partir das 19h, no Cine Ritz Sala Sesc, em Goiânia. Durante os quatro dias de programação gratuita, o público terá a oportunidade de conhecer longas e curtas de ficção, animação e documentário realizados por cineastas de diferentes origens e idades, em especial potências negras, indígenas e quilombolas.
A curadoria da mostra foi trabalhada por Lidiana Reis, cineasta e idealizadora do Prêmio Cora, voltado para diretoras do Centro-Oeste; e por Ceiça Ferreira, professora do curso de Cinema e Audiovisual da UEG e fundadora do Cineclube Maria Grampinho. Juntas, elas selecionaram 20 filmes buscando contemplar estilos, linguagens e práticas fílmicas que articulam audiovisual e transformação social dentro e fora das telas, por meio de uma pluralidade de vozes.
¨Os filmes materializam o desejo das mulheres de contar histórias a partir de suas próprias perspectivas, assumindo uma posição de poder que geralmente é atribuída aos homens. É nesse lugar de diretoras que elas têm feito do cinema e do audiovisual um campo de atuação profissional, onde constroem novos imaginários e estratégias de fabulação”, relata Ceiça. Segundo a pesquisadora, há um desejo entre as cineastas da região central em fazer do audiovisual um espaço de reflexão sobre a sociedade e questões que são urgentes no contexto local, a mostra é mais uma dessas iniciativas coletivas.
O conceito do título “Águas Correntes” associa a força das águas enquanto resiliência humana para transformar, lapidar e abrir caminhos, assim como fazem as mulheres que escolhem trabalhar com cinema. Além disso, Lidiana Reis reflete que as margens do rio guardam histórias passadas. E com a mostra queremos contar nossa trajetória, e fortalecer os caminhos já trilhados por mulheres no audiovisual, fazendo com que no futuro possamos contar nossas histórias, sem partir da invisibilidade”.
Nesse contexto, a mostra traz obras das pioneiras em Goiás, Rosa Berardo, Claudia Nunes e Adriana Rodrigues, e Dácia Ibiapina, do Distrito Federal. “Elas que abriram caminho, ousaram fazer cinema fora do eixo Rio-São Paulo ainda nos anos de 1980. Foram elas que acreditaram na importância da formação na área para uma maior participação feminina no mercado”, conta Lidiana.
Também integra a iniciativa produções daquelas que deram continuidade a esta jornada ou que mais recentemente assumiram o papel de pioneirismo em outros estados, como Simone Caetano e Fabiana Assis, em Goiás; Juliana Capilé e Samantha Col Debella, no Mato Grosso; Marineti Pinheiro, no Mato Grosso do Sul e Edileuza Penha de Souza e Renata Diniz, no Distrito Federal.
Destaques da programação
A ficção “A velhice ilumina o vento”, de Juliana Segóvia (MT), mostra a altivez e alegria de viver da protagonista Valda, uma mulher preta, idosa, periférica, trabalhadora doméstica da cidade de Cuiabá. Este filme é a primeira produção do Aquilombamento Audiovisual Quariterê, coletivo criado em 2017 que articula a inserção de profissionais negros, negras e indígenas na cadeia produtiva do audiovisual. O nome do coletivo homenageia o Quilombo do Quariterê (localizado na região de Vila Bela, primeira capital mato-grossense), liderado por Teresa de Benguela.
O documentário “Me Farei Ouvir”, de Bianca Novais e Flora Egécia (DF), problematiza a sub-representação feminina na política brasileira e por meio de entrevistas com a senadora Benedita da Silva, as deputadas federais Áurea Carolina e Joênia Wapichana, entre outras mulheres que são inspiração. O filme ecoa vozes femininas na tela e também em ações de estímulo para que mais mulheres possam atuar na política.
Já o documentário “Kuna Porã – Matriarcas Guarani e Kaiowá”, dirigido por Fabiana Fernandes e Daniela Jorge João, evidencia o ponto de vista de parteiras, rezadeiras, artesãs, agentes de saúde e professoras, mulheres que falam de seu cotidiano, de suas vivências pessoais, que utilizam o audiovisual para reivindicar seus direitos.
A programação conta também com “Meada Cor Kalunga”, dirigido por Marta Kalunga e Alcileia Torres (lideranças quilombolas) e Analu Reis de Sá, jovem negrindígena da etnia Pataxó. O filme documenta o encontro, as conversas e a partilha de conhecimentos tradicionais de Marta Kalunga e Dirani Kalunga acerca da coleta de troncos de raízes do cerrado para o tingimento de tecidos no quilombo Vão de Almas, em Goiás.
Mapeamento Inédito
A mostra é a primeira atividade de um projeto mais amplo: a publicação do livro Águas Correntes - A Produção Audiovisual Feminina do Centro do Brasil, prevista para o segundo semestre de 2024. Na abertura da mostra, dia 20 de junho, será lançado um material que decorre dessa pesquisa: o “Mapeamento de cineastas e roteiristas do Centro-Oeste do Brasil - 1º Edição”, publicação digital que além de dados sobre tais profissionais, contempla ainda uma linha do tempo (da década de 1960 até 2023) com informações sobre o cinema e o audiovisual feito por mulheres nos três estados (GO, MT e MS) mais o Distrito Federal e uma retrospectiva de roteiristas que participaram do Prêmio Cora.
Este mapeamento apresenta os resultados preliminares de uma proposta de salvaguarda e pesquisa sobre o patrimônio audiovisual feminino no Centro-Oeste brasileiro; e reflete um trabalho coletivo que reúne as pesquisadoras Cindy Faria, Lidiana Reis e Juliana Marra; a colaboração da professora Ceiça Ferreira e da estudante de cinema e Audiovisual Geovana Alves e a participação das produtoras Bárbara Santana, Nívia Neves e Gabriel Marinho.
Confira a programação completa no Instagram @premio_cora .
Serviço:
Mostra Águas Correntes: mulheres no Audiovisual do Centro-Oeste
20 a 23/06, às 19 horas
Gratuito
Cine Ritz Sala Sesc (Rua 8, n.501, Centro, Goiânia/GO)