O Espaço Exposição 1 do Centro de Convenções de Anápolis foi tomado por uma movimentação especial na tarde de terça-feira, 12 de novembro, com a realização da Mostra Científica e apresentação oral de trabalhos em banners dos discentes da Universidade Estadual de Goiás (UEG). A atividade ocorreu durante do X Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe|UEG). Em um mesmo espaço, era possível vivenciar saberes de diferentes áreas e campos do conhecimento, com estudantes entusiasmados para falar sobre suas pesquisas e contribuir para a divulgação do conhecimento científico produzido na Universidade.
Reflexões sobre vulnerabilidades sociais, inclusão de grupos vulnerabilizados, análise de casos na área de saúde, no campo da educação, tecnologias, literatura e linguagens ou na área produtiva eram algumas das temáticas abordadas. Numa das primeiras fileiras dos pôsteres, estava Aiane Kelly Ferreira Santiago Torres, de 28 anos, aluna do Mestrado em Geografia no Câmpus Cora Coralina da UEG, com sede na Cidade de Goiás. Ela apresentou uma pesquisa socioambiental e crítica intitulada "Mineração em Niquelândia (GO): zonas de sacrifício e injustiça ambiental em um território minério-dependente."
Orientada pelo professor Ricardo Junior de Assis Gonçalves, a estudante contou que examinou o histórico de mineração em Niquelândia utilizando conceitos da ecologia política, para destacar os impactos socioambientais da atividade. Segundo ela, a mineração gera crescimento econômico, mas é também predatória, levando ao esgotamento de recursos e ao abandono do território quando as operações cessam, como ocorreu em 2016 na localidade, quando a empresa Votorantim Metais encerrou suas atividades na cidade, resultando em estagnação econômica. Natural de Niquelândia, o relato é pessoalmente significativo para Aiane, que espera defender sua dissertação até abril do próximo ano. Ela conta que participou do Cepe pela primeira vez durante a pandemia, de forma on-line, e agora valoriza a experiência presencial. “Para mim está sendo uma oportunidade rica e incrível estar participando aqui, com esse arcabouço teórico de grandes profissionais com temáticas incríveis na mesa”, disse.
Ao lado da mestranda, estava Agda dos Santos Lima, do 8º período de Ciências Econômicas da Unidade Universitária de Anápolis (CSEH) – Nelson de Abreu Júnior, apresentando o banner “Da consolidação de um modelo estrutural produtivo à especialização comercial em recursos naturais: Brasil, histórico e perspectivas”.
Bolsista do Programa de Bolsas de Iniciação Científica da UEG (Pibic|UEG), Agda destacou a relevância das palestras do Cepe deste ano para sua próxima pesquisa. Ela concluiu seu atual ciclo na iniciação científica e já planeja entrar em outra. Sua pesquisa, que pretende manter como trabalho de conclusão de curso, está focada na potencial especialização do Brasil em recursos naturais. O trabalho busca analisar se o Brasil tem a capacidade de entrar dentro dessa lógica internacional produtiva. "Eu trabalhei com diferentes fontes de dados, muita referência bibliográfica e leitura para fazer uma análise do panorama geral atual, passado e uma prospecção para o futuro. Durante um ano, fiz algumas análises dos setores que possuem mais desenvoltura devido ao histórico produtivo brasileiro e ao modelo de substituição de importações”, explicou.
Serviço à comunidade
No 10º período do curso de Zootecnia no Câmpus Oeste da UEG, localizado em São Luís de Montes Belos, a aluna Wanessa Hitchelle de Sousa Alves, também bolsista do Pibic|UEG, realizou um trabalho sobre a rotulagem de queijos minas frescal, buscando não só informar, mas garantir a segurança alimentar dos consumidores locais. No estudo, ela enfatizou a importância do rótulo nos produtos alimentícios, destacando que muitos produtores desconhecem a necessidade de apresentar informações detalhadas, como a tabela nutricional e o Selo de Inspeção Municipal (SIM). Essa falta de informação, de acordo com a estudante, é preocupante, pois “o produtor vai lá e vende no mercado, e as pessoas podem ter alergia e não sabem, indo lá, comprando e comendo aquele queijo”.
A primeira fase do projeto de Wanessa foi dedicada a identificar essa situação e conscientizar sobre a obrigatoriedade dos rótulos, mas ela pretende, futuramente, se aprofundar na questão, transmitindo aos produtores locais que a rotulagem é uma exigência legal. De acordo com a estudante, a principal dificuldade enfrentada durante a pesquisa foi a visita aos mercados, onde verificou que a maioria dos queijos não possuía os rótulos. Para a pesquisadora, é essencial que a comunidade compreenda o valor do processo de rotulagem: “É importante saber que existe todo um processo, existe avaliação, rótulo para tudo hoje em dia. E é errado você vender um produto sem o selo, que irá trazer mais informações para as pessoas que consomem”.
Durante a Mostra Científica no X Cepe|UEG, a literatura também teve seu lugar. No meio do conjunto de banners, no final da primeira seção, estava Thiago Lourenço, discente do curso de Letras da Unidade Universitária CSEH. Thiago destacou-se com uma pesquisa focada na topoanálise do romance “O corcunda de Notre Dame”, de Victor Hugo. Intitulada “A relação à topoanálise social e psicológica dos personagens no romance de Victor Hugo”, a pesquisa examina como diferentes tipos de espaço – físico, geográfico, histórico e psicológico – influenciam o comportamento dos personagens. O estudante é orientado pela professora da UEG Ana Beatriz Demarchi Barel, doutora em Teoria Literária com pós-doutorado em Arte e Cultura.
Thiago explicou que a topoanálise aborda a interação entre o ambiente e o desenvolvimento psicológico das personagens, recorrendo a autores como Antônio Dimas para explorar como o espaço molda a narrativa e a profundidade dos personagens, que podem ser descritos como "redondos" (com grande complexidade) ou "planos" (menos desenvolvidos). Com um longo histórico de interesse por estruturas narrativas e há três anos como bolsista do CNPq, ele já realizou outras pesquisas sobre a influência do espaço, com foco na obra de Alexandre Dumas e na comparação entre contos de Machado de Assis e Edgar Allan Poe. “A literatura entrou na minha vida muito cedo. Eu entrei na UEG para fazer Letras por causa da literatura. E estudar literatura francesa foi minha porta de entrada. Minha professora que me convidou eu abracei”, comentou.
O aluno participa do projeto “Análise do espaço e as relações de herança do romance brasileiro em relação ao modelo francês”, sob orientação da professora Ana Beatriz. Ela explica que seu trabalho é focado no estudo da literatura do século XIX, com especial dedicação aos romances franceses e brasileiros. Idealizado por ela e apresentado ao CNPq, o grupo de estudo atualmente reúne pesquisadores de várias instituições, incluindo USP, Unicamp, Unesp (câmpus de Araraquara e Assis), UERJ, UFRGS e UFSCar, além de contar com um colaborador de uma universidade na Suíça. Atualmente, conta com cerca de 20 estudantes em diferentes estágios acadêmicos, desde iniciação científica até mestrado e trabalhos de conclusão de curso.
A profa. Ana Beatriz elogia a qualidade dos seus orientandos e destaca três características essenciais para jovens pesquisadores: curiosidade, resiliência e iniciativa. Segundo ela, Thiago exemplifica essas qualidades, não apenas seguindo as orientações dadas, mas também buscando referências e explorando teorias por conta própria.
Além de Thiago, outras duas alunas do projeto também estavam na Mostra: Aline de Melo Freitas, que pesquisa sobre romance francês e desenvolve um trabalho sobre o poeta brasileiro Álvares de Azevedo, explorando a profundidade e originalidade da sua obra no contexto do século XIX; e Maríllia Albuquerque, do 4º período do curso de Letras da Unidade. Considerada um “meio-gênio” pela orientadora, Maríllia já trabalhou com três grandes romances: “Crime e castigo”, de Dostoiévski; “Angústia”, de Graciliano Ramos; e “O estrangeiro”, de Albert Camus.
(Comunicação Setorial|UEG)