Perfil
Foto: Fábio Silva
Texto: Daniel Prates
Suely Cavalcante - Modéstia que não esconde a competência
Professora

Há pessoas que almejam uma caminhada profissional coroada de reconhecimento, de respeito e sucesso e se empenham de todas as formas para alcançá-los. E há aquelas pessoas que por sua dedicação, trabalho árduo e competência, conquistam todas essas coisas, mesmo sem buscar os holofotes. A professora Suely Cavalcante se encaixa no segundo grupo. 

Eu a recebi nas dependências da Reitoria, em Anápolis, para um bate-papo no qual eu tentaria captar a essência de sua personalidade e um pouco de sua história com a Universidade Estadual de Goiás, que se inicia antes mesmo de sua criação. Nossa entrevista foi interrompida algumas vezes por colegas, servidores, gestores, que efusivamente vinham cumprimentar a professora, felizes por revê-la. O carinho e admiração dessas pessoas deixaram claro para mim o prestígio que a professora desfruta entre seus pares. Ao final, saí com a sensação de ter conversado com uma das pessoas mais importantes para que a UEG tenha chegado aos seus 25 anos de existência com o alcance e dimensão que tem atualmente.

De sorriso fácil, a profa. Suely pode enganar, num primeiro momento, um desavisado que confunda sua gentileza e discrição com passividade. Tendo participado de todos os âmbitos da instituição – como discente, docente e gestora – foi a responsável pela inovação e implantação de alguns instrumentos que agora são essenciais para a comunidade acadêmica.

Sua história com a universidade tem início em 1976, quando ingressou como aluna do curso de Economia na então Faculdade de Ciências Econômicas de Anápolis, que em 1990 viria a ser a Universidade Estadual de Anápolis - Uniana e, finalmente, em 1999, seria integrada à Universidade Estadual de Goiás. 

A paixão pela docência tem início ainda durante o tempo de graduação, quando começou a lecionar matemática na rede pública e a atuar como monitora em seu curso, dando suporte a colegas e assessorando os professores. Logo após a graduação, é contratada pelo Estado para continuar lecionando na rede pública. Em 1985, com o intuito de melhorar a renda, dá início a sua segunda graduação, dessa vez em Matemática, onde novamente atuou como monitora, o que lhe rendeu uma bolsa para ajudar no custeio dos estudos. 

Em 1989, logo após a graduação, foi convidada a lecionar para os cursos de Economia, Ciências Contábeis e Engenharia. Já no ano de 1999, é aprovada em concurso e efetivada como docente na já então Uniana. Pouco tempo depois, Suely, uma verdadeira entusiasta dos números, decide, com a ajuda de outros professores, propor a criação de um curso de Matemática na instituição, que foi autorizado no ano 2000 e reconhecido no ano de 2005, mediante muito esforço e intermédio da professora junto ao Conselho Estadual de Educação.

Em pleito em que nem ela votou em si mesma – outro indicativo de sua personalidade discreta e avessa às posições de destaque – ela foi eleita por seus colegas para ser coordenadora do curso então recém-fundado. Se ela não se sentia apta a assumir a posição, eles discordavam redondamente. E estavam certos. Sob sua coordenação, o curso de Matemática alcançou pela primeira vez a nota 5 no Enade, o único da região Centro-Oeste a alcançar tal resultado até então. Nas eleições seguintes, foi reeleita, para a surpresa de ninguém. 

“[...] só temos sucesso de verdade em nossa carreira, se tivermos paixão pelo que fazemos, se trabalharmos não só pelo dinheiro, mas por amor.”

Para ela, o reconhecimento e os resultados são mera consequência de sua paixão e dedicação pela profissão e pela educação. “É claro que trabalhamos por dinheiro também, para garantir nosso sustento. E já participei de vários movimentos para reivindicar esses direitos. Mas só temos sucesso de verdade em nossa carreira, se tivermos paixão pelo que fazemos, se trabalharmos não só pelo dinheiro, mas por amor”, ela diz, com uma sinceridade que torna impossível duvidar que ela significa o que diz.

Além da coordenação do curso de Matemática, a professora também ocupou outros cargos de gestão na UEG, como a Coordenação das Licenciaturas e Coordenação de Ensino. Participou da implementação de instrumentos que se tornaram essenciais para a Universidade, como a Matrícula Online e a Biblioteca Online. Participou também da criação do Programa UEG 5, que introduziu políticas, diretrizes, estratégias e ações para aumentar os índices avaliativos internos e externos da universidade.

No ano de 2019, é convidada mais uma vez a assumir um cargo de gestão na universidade, quando assume a Pró-Reitoria de Extensão, onde atuou até o ano seguinte. Em 2020, foi nomeada pró-reitora de Graduação e sob sua gestão, durante a pandemia de covid-19, a UEG se tornou a primeira universidade do país a realizar aulas online. 

Durante nossa conversa, perguntei que tipo de profissional ela acreditava ser e ela respondeu que sempre encarou os desafios da carreira como os ônus que contrapunham os bônus da jornada. Definiu-se como alguém companheira, comprometida com tudo o que faz e que vê a maioria de suas conquistas profissionais apenas como tarefas a serem cumpridas. E foram, com excelência. 

“Eu sei que fiz um bom trabalho como professora. Sei porque fiz sempre o máximo que pude. E sei porque quando encontro meus alunos, vejo pessoas de sucesso que me reconhecem e me agradecem, com muito carinho”. Alguém que a tenha conhecido de perto ousaria dizer que não é verdade?

E talvez não seja. Afinal, a verdade é que nem a modéstia da profa. Suely e nem a brevidade deste texto permitem relatar com precisão sua relevância para a história da universidade. Impossível separar, a profissional comprometida, a docente entusiasmada, é a mesma Suely que se define como uma pessoa amorosa e fiel às amizades que cultiva, alguém que nunca abre mão daqueles que gosta e por quem não mede esforços quando necessário.

Sua jornada na UEG teria chegado ao fim no ano de 2022, por ocasião de sua aposentadoria, mas seus alunos pediram que continuasse, receosos que estavam de perder a orientação, o conhecimento e a própria presença da docente. Prova de que seu amor pela educação transcende seus interesses pessoais, decidiu continuar  como professora voluntária até o fim do período, quando de fato, se despediu da UEG, deixando saudades em todos que com ela conviveram. “Terminei minha carreira na docência da mesma forma que comecei, como voluntária”, conta Suely, satisfeita com o conjunto de sua obra. E deveria mesmo estar.



UEG - COMSET | 2024
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