Perfil
Foto: Fábio Silva
Texto: Daniel Prates
Sueli Freitas - Exército de uma mulher só
Gestora

Sueli Freitas é o que poderíamos chamar de uma pessoa singular. Tendo atuado em vários âmbitos da UEG, foi testemunha e agente de momentos importantes da universidade.


Sueli Martins de Freitas Alves, ou Sueli Freitas, como é conhecida, é o que poderíamos chamar de uma pessoa singular. Dona de uma voz marcante e uma personalidade forte, ela é, sem dúvidas, uma das personagens mais notáveis da Universidade Estadual de Goiás. 

Até o dia em que a entrevistei para escrever este texto, nunca havia conversado com ela, apenas a tinha visto em eventos e sessões do Conselho Superior da universidade, do qual ela é membro. Lembro-me que suas participações nas plenárias, sempre muito ponderadas, pareciam inspirar respeito até nos membros mais antigos da instituição. Mas estou me adiantando, há muito em sua história antes de se tornar parte da linha de frente da UEG.

Nascida em uma fazenda na área rural de Frutal, Minas Gerais, Sueli se mudou com apenas 3 anos de idade para São Paulo com a família, por influência dos tios que viam na metrópole mais oportunidades de vida. A adaptação dos pais à cidade grande, acostumados que eram à vida do campo, não foi fácil. Para sustentar a família, seu pai conseguiu um trabalho de caminhoneiro. 

Para Sueli, o caminhão do pai foi a fonte de muitas memórias alegres, tanto que anos depois, quando aprendeu a dirigir, foi em um caminhão. Ela recorda com carinho das viagens para a praia na boleia, junto de seus três irmãos. “A gente viajava muito de caminhão, era legal ver o mundo de cima. Para mim isso era uma diversão, né?”, sorri. A criança que gostava de ver o mundo de cima não sabia que ainda voaria alto no futuro. 

Sueli ficou em São Paulo até os 19 anos de idade, mas segundo ela, nunca gostou de morar na capital. Sempre dizia que prestaria vestibular para outra cidade, para protestos da família, que achava um absurdo que ela saísse de um lugar com tantas oportunidades para tentar a vida em outro lugar. A exceção era o pai, que sempre a apoiava em tudo. Para agradar a família, fez o vestibular para o curso de Agronomia da USP, mas seguiu firme em seu objetivo e também fez a prova da Universidade Federal de Goiânia. Foi aprovada em ambas. Escolheu Goiânia, apesar de sequer conhecer a cidade. E era isso o que ela queria, ir para o coração do Brasil, longe do desassossego de São Paulo. Logo que chegou à capital de Goiás, se apaixonou pela cidade.

Após a graduação, começou a trabalhar em uma loja de produtos agropecuários, dando consultoria para os clientes. Em um mercado predominantemente dominado pelos homens, ela enfrentou e desconstruiu muitos preconceitos. Afinal, como uma mulher poderia entender de agronomia? Pois ela entendia bastante. 

Foi nessa época também que em um evento agropecuário, conheceu um cliente especial, que viria a tornar seu futuro esposo e pai de seus dois filhos. Hoje Sueli tem também três netas, a quem dedica seu amor e tempo. 

Apesar de ter se adaptado bem à profissão, ela queria mais e continuou investindo em sua qualificação. Algum tempo após se graduar, fez especialização em Estatística e em seguida, mestrado em Produção Vegetal, com foco em Estatística Experimental. Foi quando surgiu o concurso da Uniana. Aprovada, tomou posse apenas três meses antes de a Uniana ser integrada à recém-criada UEG. Ela conta sorrindo que quase chegou a tempo de ver as placas da fachada da universidade serem trocadas. 

É nesse momento que seu talento começa a se destacar. Tendo sido aprovada em primeiro lugar na prova teórica do concurso, com larga vantagem do segundo colocado, seu desempenho extrapolou as fronteiras do estado e começou a atrair atenção nos congressos de estatística. Todos queriam saber quem era essa tal de Sueli, lá do estado de Goiás, que tinha tirado uma nota quase perfeita em uma prova de estatística. Quando, algum tempo depois, participou de um congresso da área, se surpreendeu com a reação das pessoas, que queriam saber quem ela era. Sua fama já a precedia. 

Quando a Universidade Federal de Goiás abriu um concurso naquele mesmo tempo, foi incentivada por amigos a fazer a prova, talvez fosse mais vantajoso para ela. Mas a despeito de seu vínculo com a universidade onde havia se graduado, preferiu continuar na UEG, pois era isso o que ela queria, enfrentar o desafio de participar da construção de um projeto grandioso. 

E de fato ela fez parte da história e da construção da UEG. Foi testemunha e agente de momentos importantes da universidade, como a elaboração do primeiro regimento da instituição, a criação de cursos, a criação de concursos para compor o quadro de professores e servidores técnico-administrativos e muitas outras labutas da comunidade acadêmica. 

Já atuou como coordenadora curso de Biologia do Câmpus CET; como coordenadora pedagógica; como coordenadora de Avaliação e Gestão de Pessoas no Departamento de Recursos Humanos; foi pró-reitora de Planejamento, Gestão e Finanças; gerente de Infraestrutura; coordenadora do mestrado em Engenharia Agrícola; pró-reitora de Extensão; pró-reitora de Gestão Integrada; pró-reitora de Planejamento; e diretora do Instituto Acadêmico de Ciências Agrárias e Sustentabilidade, onde atua até hoje. 

Ao longo da carreira, participou de diversas comissões e em várias foi presidente, como as comissões de concursos para docentes dos anos de 2010 e 2014; a comissão do concurso para servidores técnico-administrativos; a comissão de seleção para o regime de dedicação exclusiva, posteriormente RTIDP, entre outras. A lista é grande. Idealizou e implantou alguns sistemas na UEG, como o Radoc, o Sigad, o sistema gerencial de RH e o sistema Finis. “Eu tenho o maior orgulho de fazer parte da história da UEG”, garante. 

Durante todo esse tempo, conseguiu conciliar seus cargos de gestão com a docência e com os estudos, desafio duplo, mas ela sempre gostou de desafios. Fez doutorado e pós-doutorado. Como docente, se orgulha de ver muitos de seus alunos e orientandos atuando e se destacando no mercado de trabalho. “Eu falo que me sinto com a missão cumprida na docência, porque mesmo sendo de uma área tão difícil, que ninguém gosta, que é a estatística, eu tive vários alunos que me procuraram porque queriam trabalhar comigo”, diz. 

Se um dia eu decidi vir para a UEG e continuo aqui, é porque acredito na universidade e nas pessoas que a compõem”

Sueli é como um exército de uma mulher só. É tantas em uma. Depois de construir uma história tão extensa e rica, seria razoável dizer que ela já fez sua parte, que sua missão está cumprida. Mas apesar de já poder se aposentar há mais de um ano, segue contribuindo para o desenvolvimento da UEG. “Eu não estou pronta para parar. E ainda não encontrei o que sei fazer fora da UEG”, afirma, sorrindo. “Se um dia eu decidi vir para a UEG e continuo aqui, é porque acredito na universidade e nas pessoas que a compõem”, completa. E que sorte a nossa.



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