Perfil
Foto: DCOM/UFLA
Texto: Dirceu Pinheiro
Paulo Ventura - Paixão pelo esporte e pela educação
Professor

Desde 2003, tenho percorrido os corredores da UEG, registrando histórias e me deixando surpreender com elas. Em cada palavra escrita, em cada página preenchida, busco a essência da universidade. E é como se ao conhecer o professor Paulo, toda essa energia se materializasse em uma única pessoa. Sinto como se já o conhecesse.

A Educação Física se transformou no elo entre Paulo e a Unidade Universitária de Goiânia-Eseffego. Uma conexão tão específica que, por vezes, o professor se vê imerso em uma linha tênue entre sua própria jornada e a da Eseffego. Separo boas páginas em meu bloco de anotações, pois vislumbro o prenúncio de uma longa história.

Ao ligar para agendar a entrevista, uma voz embargada do outro lado da linha me atendeu, percebi que era emoção por ser uma das figuras perfiladas por ocasião dos 25 anos da UEG. Sem hesitar, aceitou o convite e veio até Anápolis. E pronto, o nosso encontro ia acontecer.

Logo nos primeiros instantes da nossa conversa, percebi uma pessoa apaixonada pelo esporte e pela educação. Sua voz, revestida da serenidade de um professor experiente, prendeu a nossa atenção de imediato. Falou como quem tem muita intimidade com o esporte, sendo esse seu amigo desde a pré-adolescência, quando foi nadador de um clube lá no interior de São Paulo. “De lá para cá, sempre estive envolvido com esportes variados. Fui jogador de futebol, de futebol de salão, voleibol, além de atuar também como preparador físico, técnico de futebol profissional e de futebol de salão”, revelou com um brilho nos olhos que denunciava a nostalgia das memórias vividas.

No início da década de 70, partindo de São José do Rio Preto, Paulo Ventura iniciou trajetória na Escola Superior de Educação Física do Estado de Goiás (Esefego). Nessa encruzilhada de escolhas, optou pelo curso de Educação Física, deixando para trás os vestibulares em Matemática e Geografia, para os quais havia sido aprovado em sua terra natal, no interior de São Paulo.

Ao desembarcar em Goiânia e iniciar seus estudos, Paulo foi prontamente convocado pelo Governo de Goiás. Ele descreveu uma notável escassez de profissionais qualificados na área. Foi então designado para a Secretaria de Educação e para a Fundação Estadual de Esportes, permanecendo à disposição da Esefego. Com a mudança de governo, surgiu a oportunidade para quem estava à disposição optar entre permanecer onde estava ou retornar ao órgão de origem. Ele nem pensou muito e foi nesse momento que Paulo soube que era ali, na Esefego, o seu lugar.

O professor ultrapassou os limites da sala de aula para tornar-se uma voz ativa nos movimentos sociais que clamavam pela criação de uma universidade estadual. Reavivando as memórias de dias tão decisivos, ele recorda: “Naquela assembleia crucial, chegamos à conclusão de que ainda não era o momento para estabelecer uma universidade, mas sim para erguer um centro universitário”. Porém, o destino reservava uma reviravolta surpreendente: em 1999, a UEG foi criada, incorporando 15 faculdades isoladas, incluindo a Universidade Estadual de Anápolis. Ventura e seus colegas não gostaram dessa decisão do Governo, mas viram nesse revés uma oportunidade para tentar fazer daquele limão uma limonada. “Então, fomos à luta para isso”.

“A universidade só começou a se transformar por causa das lutas incansáveis de cada unidade, para que a gente pudesse ter os concursos que tivemos e aos poucos sendo o que é hoje.”

À medida que os anos avançavam, a instituição ia amadurecendo diante de seus olhos. E no ano de sua aposentadoria, o professor não se afastou das transformações em curso. Ao ingressar no Conselho Universitário, assumiu um papel ativo nesse processo. Essa experiência não apenas o conectou mais profundamente com a evolução da universidade, mas também o levou a perceber a dimensão de cada parte que integra o todo. “A universidade só começou a se transformar por causa das lutas incansáveis de cada unidade, para que a gente pudesse ter os concursos que tivemos e, aos poucos, sendo o que é hoje”. Assim, somando histórias e multiplicando sonhos, a UEG se entrelaçou profundamente com a vida de muitos goianos, refletindo uma realidade moldada não apenas pelo passado, mas também pelas aspirações que delineiam seu futuro.

Durante nossa conversa, vejo um senhor que, aos 75 anos, não apenas reflete sobre a UEG em suas atividades diárias, mas também a traz para dentro de seus sonhos pessoais. Ventura não deixa de aspirar por melhorias na universidade que tanto ama. Seus olhos brilham ao compartilhar o desejo de ver o prédio de sua unidade de origem renovado, pois acredita que essa transformação é o primeiro passo para tornar outros sonhos em realidade. Ele recorda a decisão de sua unidade de não ampliar a oferta de cursos de graduação além de Educação Física e Fisioterapia, partindo da premissa de que cursos só deveriam ser criados se a instituição tivesse condições para ofertá-los com qualidade. Recentemente, a introdução do curso de Biomedicina trouxe mais oportunidades para o horizonte da Eseffego, sua segunda casa. No entanto, a reforma do prédio da Eseffego é o cerne de seus anseios, pois reconhece que somente após essa revitalização será possível vislumbrar a implementação de programas de pós-graduação e outras melhorias. 

Mesmo diante da iminente aposentadoria, que marca este ano com a inevitável passagem do tempo, Paulo Ventura ainda parece um jovem no início de carreira, mantendo acesa a chama do compromisso com a sua instituição. Em sua essência, ele reconhece que a competência é uma busca constante, dada a evolução incessante da ciência. No entanto, se há uma característica que define seu perfil ao longo dos anos, é o compromisso inabalável, uma constante em toda sua vida e em cada desafio enfrentado, especialmente em seu papel como educador.

Extrapolando os limites de um currículo já extenso, há algum tempo Paulo criou o grupo de pesquisa Corpo e Mente, do qual se orgulha muito, sobre formação e intervenção profissional na Educação Física. E, mesmo após a aposentadoria, ele pretende continuar colaborando. “Estou me aposentando este ano, mas continuo nos meus dois grupos de pesquisa e quero fazer parte de todas as lutas que a gente tiver para fazer”. Eu nem terminei a entrevista e já sei que sua determinação é poderosa, ecoando pelas gerações futuras, inspirando-as a abraçar o desafio do conhecimento e a nunca desistir de suas próprias buscas.

“O trabalho do professor é fantástico. Ainda que às vezes as pessoas não reconheçam, em algum momento elas sempre vão lembrar. E se lembra é porque teve alguma intervenção, alguma interferência na formação dessa pessoa”.

Ao referir-se a si mesmo como profissional, Paulo Ventura se considera um professor exigente, que procura ter condições de trabalhar com aquilo que lhe é confiado. “Por isso fiz um mestrado, por isso fiz um doutorado, por isso, tenho grupo de pesquisa, por isso pesquiso, por isso publico, por isso vou a eventos”. Com o brilho dos anos acesos em seu olhar, o jovem senhor apaixonado pelo esporte e pela educação condensa em suas palavras o legado que desenvolveu nos últimos 53 anos. “O trabalho do professor é fantástico. Ainda que às vezes as pessoas não reconheçam, em algum momento elas sempre vão lembrar. E se lembra é porque teve alguma intervenção, alguma interferência na formação dessa pessoa”.

Quando pergunto sobre o que esperar da UEG nos próximos 25 anos, o professor diz que é difícil medir, mas projeta um futuro sonhado por todos que fazem parte da universidade. “A gente depende muito da nossa autonomia financeira. Se o governo nos der essa autonomia, a universidade passa a ser uma universidade de Estado e não de governo.”



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