O professor Nelson de Abreu Júnior foi a primeira pessoa da UEG que eu conheci. O ano era 2004 e eu acabara de ingressar no curso de Letras, em Anápolis. Era o primeiro dia de aula e após participar de um trote solidário coordenado pelos veteranos, os calouros foram conduzidos para o auditório da Unidade Universitária de Ciências Socioeconômicas e Humanas, onde seríamos recepcionados com uma palestra de boas vindas proferida por ele, que era o coordenador da UnU na época.
Suas palavras foram calorosas e acolhedoras e me ajudaram a superar a tensão do primeiro dia. Ele falou com serenidade, mas com muita propriedade, sobre a jornada acadêmica que se iniciava em nossas vidas. Foi um discurso bonito, cheio de esperança sobre o futuro que começávamos a construir naquele momento. Saí de lá com a sensação boa de finalmente fazer parte de um novo universo, de pertencer a um grupo seleto, de ser um membro da comunidade uegeana.
Ao longo dos anos seguintes, envolvido que eu era com movimentos estudantis, tive a oportunidade de estar com ele em diversas ocasiões e lembro-me que sua presença inspirava respeito, mas sem pressão, emanava uma força que parecia nunca precisar usar. Talvez ele nem soubesse que passava essa impressão, simplesmente era assim. Quem é não precisa se esforçar para ser.
Mas o professor Nelson não marcou apenas a minha história, marcou a história de tantos quantos o rodeavam, marcou a história da própria UEG. Evidência disso foi a comoção causada por sua morte prematura – ele tinha apenas 56 anos de idade quando a covid-19 nos privou de sua companhia. O abalo causado por sua partida transcendeu o baque da perda de um professor, de um amigo, de um familiar. Quem nos deixou naquele dia era tudo isso e mais.
Casado com Maria Cristina Abreu, parceira com quem conviveu por 28 anos, Nelson teve dois filhos, Rafael e Bárbara. Garantir sua educação era a maior preocupação do pai. Para a família, ele era mais que um esposo e pai, ele era o porto seguro e o farol.
O filho Rafael guarda na memória os ensinamentos do pai. “Sinto saudade de todas as pequenas coisas, do mais simples ensinamento ao mais complexo, dos ensinamentos dele sobre política, psicologia, educação. Ele sabia sobre tudo”, lembra. Bárbara considera que o pai “era o cara mais inteligente do mundo”. A demonstração de amor, segundo ela, vinha por meio das ações. “A sua forma de demonstrar o amor sempre esteve nos gestos, nas suas tentativas de nos ajudar em tudo, no carinho que sempre sentiu por sua família e na sua maneira de nos defender do mundo”.
Dedicado ao trabalho e aos estudos, Nelson conciliava a função de professor com sua prática como psicólogo. Maria Cristina diz que ele sempre se dedicava ao máximo àquilo que se propunha. Foi assim no mestrado, no doutorado, em sua atuação como professor, como gestor e como psicólogo. Segundo ela, o professor não se cansava de ajudar os colegas, os amigos, parentes e até mesmo os desconhecidos. “Lutava por uma educação igualitária e justa a todos. A educação, a psicologia e a família eram sua vida”, conta.
“O Nelson lutava por uma educação igualitária e justa a todos”, conta Maria Cristina Abreu, parceira com quem conviveu por 28 anos.
De fato, o professor Nelson era um lutador. Recordo de sua atuação no Conselho Superior da universidade, do qual ele era membro. Defendia seu ponto de vista de forma eloquente e combativa, ainda que de maneira respeitosa e cortês. “Sempre ponderava sobre tudo antes de se pronunciar e defender o que acreditava, mas nos debates, até os opositores o respeitavam”, relembra sua esposa.
Graduado em Psicologia, doutor e mestre em Educação, Nelson foi professor titular nos cursos de graduação da Unidade Universitária de Ciências Socioeconômicas e Humanas de Anápolis, que hoje leva seu nome. Seu entusiasmo pelo trabalho na UEG é lembrado por colegas e alunos que conviveram com ele. A professora Virgínia Maria Pereira de Melo, colega e amiga de Nelson, conta que sua vida foi plena, com uma trajetória profissional brilhante. “Ele tinha uma inteligência aguçada, bom humor, era um estrategista de grande visão. Esteve presente em todos os momentos da Universidade[…]. Um profissional incansável”, relembra.
“Ele tinha uma inteligência aguçada, bom humor, era um estrategista de grande visão. Esteve presente em todos os momentos da Universidade[…]. Um profissional incansável”, afirma a profa. Virgínia Maria Pereira de Melo, colega e amiga.
Também foram muitos os alunos que tiveram suas vidas tocadas por Nelson. Eu sou um deles. E sei de tantos outros cujas histórias de vida foram inspiradas pelo exemplo e orientação do professor. Parafraseando Dirceu Pinheiro, “só morre quem não deixa um legado”. E ele deixou um legado de conhecimento, carinho e profissionalismo para todos os que tiveram a sorte de conhecê-lo.
Mariana da Silva Castro, egressa do curso de Pedagogia da UEG, se recorda do professor com muito carinho. Segundo ela, Nelson era muito acessível aos alunos, participava ativamente dos problemas acadêmicos, o que era um diferencial na sua gestão e trabalho. “Sempre o víamos de bom humor e sorrindo. Com ele, pude contar com as melhores aulas da minha vida”, lembra.
Isabella Luiza Fernandes é outro exemplo. Para ela, falar do professor é resgatar valores que servem de bússola para sua própria atuação. “Resistir, lutar e professorar são as suas sementes plantadas em cada um de nós. Pode ter certeza de que não falharemos na colheita”, garante Isabella.