Há mais de cinco décadas, os caminhos de Maria do Carmo Ribeiro Abreu se cruzaram com o Câmpus Cora Coralina da Universidade Estadual de Goiás, então chamado de Faculdade de Filosofia da Cidade de Goiás, dando início a uma jornada repleta de significado e dedicação.
Em um encontro virtual pelo Meet, Maria do Carmo confia a mim com vivacidade e nostalgia um pouco da sua história. Logo de início, eu consigo perceber uma senhora muito gentil e acolhedora em uma sala com uma estante de livros bem grande. Formada em Pedagogia em 1974 pela Universidade Federal de Goiás, possui ainda Especialização em Psicopedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
Relembrando os primeiros passos na docência universitária, Maria do Carmo descreveu a tremedeira das mãos na primeira aula ministrada, contrastando com a determinação de uma professora comprometida com o aprendizado de seus alunos. Ao falar sobre os desafios enfrentados na gestão acadêmica, ela destacou a importância de dar voz ao coletivo e fazer das divergências uma oportunidade de enriquecimento.
“A universidade teve a ousadia de servir o interior, isso é uma grandeza.”
A cada palavra, a professora me transportava para os corredores da UEG, onde, por muito tempo, esteve à frente. Ela lembra que foi muito gratificante ser escolhida para cargos de gestão, tendo a possibilidade de ser reeleita em alguns deles. “Foi muito gratificante ser uma pessoa que participava da gestão de uma universidade pela qual sonhamos tanto”. E mais que isso, para ela, saber que o câmpus servia a muitos municípios do entorno era uma responsabilidade adicional de formação. “A universidade teve a ousadia de servir o interior, isso é uma grandeza.”
“Com essa universidade eu expandi meu conhecimento e a capacidade de me humanizar, sendo esse ser humano que precisa tanto refletir sobre si mesmo”
Para Maria do Carmo, a UEG não é apenas uma instituição de ensino, ela representa janelas de aprendizado. “Com essa universidade eu expandi meu conhecimento e a capacidade de me humanizar, sendo esse ser humano que precisa tanto refletir sobre si mesmo”. Confesso que é difícil não se emocionar com palavras tão repletas de sabedoria.
Sobre o papel do professor na sociedade contemporânea, ela demonstra uma mistura de reconhecimento e preocupação com a desvalorização da profissão. Enquanto reflete sobre o profundo impacto que a docência teve em sua própria jornada pessoal, ela me segreda que levava para a sala de aula o mesmo tratamento que tinha em casa com seus filhos. “Sempre com muito respeito e atenção”. O fato de seus ex-alunos a procurarem com frequência é uma forma de ilustrar o impacto positivo que teve em suas vidas.
Aposentada em 2013, a professora conta que não sente falta de cumprir horários, mas sim do convívio com as pessoas. Atualmente, parte de seu tempo é dedicado à realização de seu doutorado sobre formação de professores. A ideia do trabalho veio após participar do projeto voluntário “Ações cooperativas: a psicopedagogia nas escolas”, que congrega pessoas do Brasil inteiro. Sobre o fato de continuar estudando, ela acrescenta que é importante desconstruir o preconceito contra pessoas idosas. “Existe outro modo de viver a vida”.
Além de sua contribuição, peço que mande uma mensagem para as futuras gerações de educadores. Na fala, ela pede para que contribuam para que o mundo seja um lugar bom de viver. “Sejam humanos, construam relacionamentos que consigam conversar com a diferença. Conforme Paulo Freire coloca, o diálogo não é conversar com alguém que responde o que você está pensando, pois é na divergência que a gente evolui”.
Para os próximos 25 anos, ela espera que a UEG continue construindo conhecimento com excelência. “Que desenvolva ciência acoplada à extensão e nunca os separe em gavetas”. Para ela, é fundamental que as produções sirvam à sociedade e não só para o recebimento de títulos. “Dêem vida às pesquisas.”
Eu deixei por último a pergunta sobre o porquê de ser professora e ela conta que queria ser enfermeira para cuidar das pessoas. “Eu cresci na fazenda e lá meu pai cuidava dos vizinhos. Eu achava o máximo, mas ele me desencorajou porque acreditava que não era uma carreira para mulher”. Na época, as condições contextuais a levaram a fazer um concurso para educação básica e ser pedagoga. Posso dizer que a profissão a escolheu e ela não se arrepende de ter seguido na área. “O ‘se’ não existe em minha vida, era para ser.”
Ela finaliza agradecendo por ter sido lembrada e me pega de surpresa ao dizer: “Que bom é ver jovens em formação, espero que você tenha um futuro brilhante”. Também agradeço, e assim encerramos.