Perfil
Foto: Acervo pessoal | Internet
Texto: Luiz Eduardo Krüger
Larissa Fernandes – Do Laranjeiras à telinha
Egressa

A vida é cheia dessas coincidências. No projeto dos 25 perfis em comemoração aos 25 anos da UEG, dividimos entre quatro servidores da Comunicação Setorial a responsabilidade pelas entrevistas e redação dos textos. A divisão das personalidades selecionadas foi realizada de maneira aleatória e a Larissa caiu justamente pra mim. Uma pessoa que eu conheço há pelo menos uns 12 anos e por quem nutro um grande respeito e admiração.

Confesso que foi um alívio ver um rosto conhecido nessa lista. Com apenas três meses de serviço público, ainda não tive a oportunidade de me familiarizar com todos os grandes nomes que fizeram e fazem essa universidade. 

Conheci a Larissa na época da Panaceia Filmes, a produtora que ela fundou com os colegas de faculdade, assim que se graduou no curso de Cinema e Audiovisual na UEG. Juntamente com outros três egressos do curso, ela criou esse espaço dedicado à criação, reflexão e amplificação do audiovisual no estado de Goiás. 

Nesse tempo, tive a oportunidade de conviver com ela e outros que faziam e pensavam o audiovisual em nosso estado. Pude contribuir, ainda que marginalmente, com projetos incrivelmente significativos como o Seminário Audiovisual para Produtoras e Produtores Independentes e o Cinema na Calçada. Cedi ainda a minha casa como locação para um dos filmes que a Larissa produziu.

Hesitei em fazer o primeiro contato. Bastante tempo havia se passado desde a nossa convivência mais próxima e, desde então, sua carreira decolou e ela passou por grandes produtoras como Netflix, Amazon Prime Video e TV Globo. Temia atrapalhar a agenda tão atribulada de uma profissional tão importante. Não poderia estar mais enganado. Ela foi um doce comigo – assim como sempre foi e como eu me lembrava dela – e me atendeu prontamente. 

Conversamos por videoconferência, já que Larissa mora no Rio de Janeiro e trabalha como diretora da emissora mais assistida do país. Por mais que nos últimos anos todos nós tenhamos nos insensibilizado das relações face-a-face e normalizado a interação com telas, eu ainda sou partidário das trocas no mundo real e prefiro o tangível à frieza da virtualidade. Mas as condições estavam dadas e penso que fizemos dos limões, limonada, acredito que tanto por conhecê-la pregressamente, quanto pela simpatia da Larissa, dona de um sorriso que não cessa.

Larissa foi da primeira turma do curso de Cinema, que na época ainda se chamava Comunicação Social, com habilitação em Audiovisual. Como é comum aos jovens dessa idade, ela estava indecisa entre Jornalismo e Letras. Ela conta que tinha apenas uma certeza: queria trabalhar com algo no âmbito cultural ou com comunicação. Para o vestibular da UEG, o curso de Audiovisual da UEG era o que mais se aproximava, ela entrou e acabou gostando. 

Larissa conta que foi criada pela televisão. Filha de mãe solo que trabalhava em dois empregos, muitas vezes ficava sozinha em casa e tinha apenas a TV como companhia. “Xuxa, pra mim, foi uma babá”, brinca. A televisão era lazer ao mesmo tempo que mantinha a família unida em torno de algo. 

De certa forma, estar do lado de trás das câmeras nos estúdios Globo completa um ciclo na vida dela. A TV que foi babá, hoje é local de trabalho. Larissa lembra que brincava com os colegas de faculdade que gostaria de trabalhar na TV, um destino talvez incomum para os egressos do curso, que tendem a almejar fazer filmes. A brincadeira acabou se tornando uma profecia realizada.

Mas não é o sonho da criança que se realiza. Nessa dinâmica, existe também um lado político. Larissa fala da preocupação em trazer, para frente e para trás das telas, profissionais pretas, mulheres, membros da comunidade LGBTQIAPN+ e outras populações historicamente invisibilizadas. Para ela, o desejo do espectador de se sentir representado, de ver uma história que perpassa a sua história pessoal, de se ver na televisão, é  impossível de ignorar. 

“[Para] pessoas como eu, seria muito difícil estar num lugar como esse. É muito difícil furar a bolha. É o olhar de uma mulher preta do centro-oeste que está sendo colocado numa audiência de milhões de pessoas. É afetivo, mas é político e social também”, disse.

O lado político de Larissa apareceu outras vezes durante a nossa conversa. Quando perguntei sobre o seu tempo em Laranjeiras, ela destaca que a UEG foi fundamental para o contato com pessoas diferentes. Foi lá que ela teve contato com pessoas de outras religiões, outras estruturas familiares, de classes sociais diferentes e de gêneros e orientações sexuais diversas. O contato com essa diversidade tornou a Larissa quem ela é.

O curso de Cinema da UEG foi o primeiro curso da área de audiovisual a ser ofertado no estado de Goiás. Como aluna da primeira turma, Larissa acabou desbravando esse universo junto com a universidade e os professores. Muito do que o curso se tornou ao longo dos anos é contribuição dela e de seus colegas pioneiros, que construíram conjuntamente a identidade da faculdade.

Além disso, o próprio cenário audiovisual no estado de Goiás é transformado pelos profissionais formados pela UEG. A universidade contribui ativamente para que tenhamos um estado que pensa, debate e produz cinema. 

“A UEG foi um lugar de formação profissional, que me estimulou a buscar uma carreira, mas também foi um lugar que me trouxe uma visão de mundo. Lá eu fiz amizades de uma vida inteira e pude escolher os meus parceiros de trabalho”

Larissa lembra da UEG com carinho. “A UEG foi um lugar de formação profissional, que me estimulou a buscar uma carreira, mas também foi um lugar que me trouxe uma visão de mundo. Lá eu fiz amizades de uma vida inteira e pude escolher os meus parceiros de trabalho”, contou. 

Durante a faculdade, por ter um perfil expansivo e desenrolado, ela se desenvolveu como produtora. Mas havia algo faltando, ela queria contar as histórias. Passou a fazer assistência de direção, ao mesmo tempo que buscava se desenvolver como diretora e roteirista. Foi em 2020 que chegou o convite da Netflix para participar de um processo seletivo de um laboratório de roteiristas pretos. 

Da Netflix, foi chamada para compor a sala de roteiro de uma série de terror da Amazon Prime Video, produzida pela Paris Filmes. Foi o seu primeiro projeto comercial para um streaming desse porte. Antes mesmo de finalizar esse projeto, foi convidada pela TV Globo para assumir a direção da novela Amor Perfeito. Hoje, vai para o seu segundo projeto na Globo, a novela Riacho Fundo. 

A jovem Larissa, que entrou no curso de Cinema por acaso, que gostaria de contar histórias, hoje pode contá-las para milhões de pessoas. E a UEG pode se orgulhar de ter contribuído para que a voz de uma mulher preta do interior do Brasil seja ouvida por tantas pessoas.



UEG - COMSET | 2024
instagram / facebook / youtube: @uegoficial