Quando me foi dado o nome de Irinesa Machado Lima com a missão de entrevistá-la, por ocasião do aniversário da UEG, fiquei um pouco confuso. Afinal, a ideia seria traçar um perfil da universidade por meio de personagens que compuseram sua história ou cujas histórias de vida tenham sido transformadas por ela. E seu nome estava na lista dos primeiros. Mas ela me parecia jovem demais para fazer parte dos 25 anos de história da instituição. Seria a mesma Irinesa que eu vira tantas vezes nos corredores da Administração Central? Talvez fosse uma homônima.
Questionei onde poderia encontrá-la e fui informado que ela trabalha na Procuradoria Setorial da universidade. Isso já me indicou que seria a mesma pessoa. Fui lá. Era ela mesmo. Perguntei se poderia me dar uma entrevista e, modesta, ela hesitou e disse que talvez não fosse a melhor escolha, pois havia, segundo ela, outras pessoas mais indicadas. Mal sabia ela que foram essas mesmas pessoas que recomendaram seu nome, por saberem de sua importância para a instituição.
Filha de agricultores, Irinesa foi enviada ainda criança para morar com os avós na cidade de Paraíso-TO para estudar. Lá, cresceu com suas duas irmãs e seis primos, que também viviam com os avós pelo mesmo motivo. Quando questionada quantos irmãos tem, ela responde que são oito. Na convivência com essa família extensa, teve uma infância simples e divertida.
Com o avançar da idade, a condição de saúde dos avós piorou e a família sentiu necessidade de se mudar para um local com mais recursos, então foram para Goiânia, onde poderiam ter acesso a um tratamento mais adequado. Mas Irinesa conta que sempre que ia visitar os pais em Gurupi, no estado do Tocantins, passava por Anápolis, que a fascinava com seu clima e suas construções, que eram predominantemente brancas naquele tempo. “Um dia eu ainda vou morar nessa cidade branca”, ela dizia. Quando os avós faleceram, voltou a morar com os pais em Gurupi, onde começou sua graduação em Direito, cujas mensalidades consumiam todo o salário que ganhava trabalhando como funcionária em uma loja de móveis.
Foi nessa época que seu patrão, ciente de seu potencial e da pessoa batalhadora que Irinesa é, recomendou que ela fosse para Anápolis para continuar seus estudos, já que lá as mensalidades eram muito mais baratas. Surgia ali a oportunidade de ir para a “cidade branca”. Irinesa organizou sua transferência e se mudou novamente para Goiás, onde se estabeleceria e daria os primeiros passos em sua carreira nos anos seguintes. Se graduou no ano de 1993, como a mais nova da turma. Isso explica porque já construiu tanto, mesmo sendo tão jovem. Após a graduação, começou a atuar na advocacia e algum tempo depois prestou o concurso para a então Uniana. Aprovada, tomou posse no ano de 1998, para assumir a parte jurídica da instituição, que um ano depois, se transformaria na Universidade Estadual de Goiás.
“A história da UEG foi de uma construção bem democrática e alegre, as pessoas estavam felizes por fazer parte desse projeto”
Irinesa conta que lembra com clareza do processo de criação da UEG, que, segundo ela, foi bastante democrático, envolvendo a participação de todas as mais de 15 faculdades públicas do estado que viriam a compor a instituição. “O estatuto da universidade foi discutido pontualmente, artigo por artigo, na cidade de Porangatu”, relembra. Gestante de oito meses, Irinesa participou ativamente do momento, a despeito da dificuldade de deslocamento para o norte do estado e dos pés inchados, ela conta sorrindo. “A história da UEG foi de uma construção bem democrática e alegre, as pessoas estavam felizes por fazer parte desse projeto”, afirma.
Na ocasião, foram eleitos os primeiros representantes docentes, discentes e técnico-administrativos da instituição, que comporiam o primeiro Conselho Superior da universidade. No ano seguinte, já após a criação da UEG, Irinesa participou também da criação do primeiro regimento da instituição, novamente com a presença de representantes de todas as unidades da universidade, na cidade de Caldas Novas. Ela lembra que na época era muito procurada por seus pares, que a procuravam buscando orientação, pois queriam propor artigos para o Regimento, mas não sabiam como elaborá-los de forma adequada, dentro dos parâmetros técnicos e legais.
Ela relembra ainda outros momentos marcantes da universidade, como o chamamento dos primeiros concursados em 1999 e as discussões sobre a sede da instituição, além de uma série de outros episódios que envolveram muitos desafios, discussões acirradas, disputas políticas, diferentes vieses e outras transições, que não convêm citar aqui, mas são histórias que só reforçam o quanto Irinesa foi essencial para que a UEG chegasse ao patamar em que se encontra hoje.
“Costumo dizer que a UEG me conquistou, porque no início da minha carreira meu objetivo era seguir na advocacia, o que eu já estava fazendo e estava indo bem, mas todo esse processo de criação, de reorganização acabou me absorvendo num movimento tão grande, que eu acabei me integrando à universidade, e aqui estou, com mais de 25 anos de casa, com muito amor por ela”, destaca.
“Eu acho linda essa aceitação da diversidade de gêneros, de pessoas e de ideias que a UEG acolhe”
Irinesa vê a UEG em amadurecimento, caminhando na direção certa, e vislumbra um futuro promissor para a universidade. “O resultado de todos esses desafios, de toda essa construção a gente já vê hoje. Eu acho linda essa aceitação da diversidade de gêneros, de pessoas e de ideias que a UEG acolhe”, afirma Irinesa com justificado orgulho.