Perfil
Foto: Acervo pessoal | Arquivos UEG
Texto: Núbia Rodrigues
Antonio Cruvinel Borges Neto – Da moda ao reitorado
Reitor

O que te move? O que te faz levantar todos os dias e fazer o que precisa ser feito? Qual o sentido de se continuar caminhando por esse mundo? 

Fé! Essa é a resposta de um homem que carrega uma carga, por vezes, pesada demais nas costas, mas permanece sereno, metódico, idealista. Não é à toa que sua sala de trabalho é vigiada do alto por São Francisco de Assis, que fica em um quadro simbólico na parede de cor esverdeada, e por diversas outras imagens de santos, do mundo todo, que o reitor ganha de seus amigos.

A fé entrou em sua vida desde cedo. Seus discursos, no geral, não falam de Deus, mas a forma com que lida com os obstáculos que têm pela frente, sejam eles profissionais ou pessoais, refletem o Alto.

Antonio Cruvinel Borges Neto levanta religiosamente às 5h e por volta das 7h, ou antes, já está no carro rumo a Anápolis, há 50km de Goiânia, cidade onde mora. Deixa em casa os seus motivos de continuar a ser e de estar nesse mundão, sua esposa Daniela e os dois filhos Antônio Filho e Ana Clara, e ruma para seus compromissos diários, que são muitos e complexos.

Liderar uma equipe de mais de 500 servidores técnico-administrativos e cerca de 1.500 docentes é uma missão por vezes cansativa e extenuante, ainda assim, o reitor se dispõe a receber a todos que o procuram seja para a resolução de algum problema relacionado ao trabalho ou um desabafo.

O professor

“Por que eu recebo as pessoas? Porque eu sou um professor. Não faz sentido chegar alguém aqui e eu não escutar. Eu sou um servidor da Universidade, como qualquer outro, apenas ocupo um lugar diferente neste momento. Em algum momento eu te demando, em outro, você me demanda, então não há porquê eu me negar a receber as pessoas. Eu não atendo mais gente apenas porque não dá tempo”, ressalta o homem vestido com um terno cinza, camisa branca, gravata azul bebê e sapato social.

“Por que eu recebo as pessoas? Porque eu sou um professor. Não faz sentido chegar alguém aqui e eu não escutar. Eu sou um servidor da Universidade, como qualquer outro, apenas ocupo um lugar diferente neste momento.”

O terno é o uniforme de reitor, não do professor Antonio, por isso mesmo, raras são as vezes em que entra em sala de aula para lecionar no curso de Engenharia Agrícola do Câmpus Central da UEG, vestido de terno. “Eu continuo a dar aulas. Dar aulas sempre foi uma terapia para mim, tanto que digo que o melhor dia da minha semana é a sexta-feira, quando entro na sala de aula.”

Com um sorriso no rosto e claramente apaixonado pela docência, o professor explica como é maravilhosa a sensação de perceber que o aluno entendeu o que ele estava explicando, que ele conseguirá levar para a prática aquele conhecimento adquirido. “É esse o meu mundo. Apesar de ter formação na área de computação, que também gosto, é na docência que me encontrei, sobretudo quando consigo unir as duas coisas”, relata Cruvinel.

“As pessoas procuram a UEG para mudar de vida, é para ter e proporcionar aos seus um futuro melhor. Nossos alunos hoje são os filhos dos trabalhadores ou  os próprios trabalhadores, então todos os meus princípios, minhas raízes cristãs sentem orgulho de ver que aquele menino conseguiu aprender, que ele está saindo da universidade muito melhor do que entrou.”

Ele afirma que, em última instância, todos os servidores da Universidade, sejam eles técnicos ou docentes, estão nela porque os alunos estão presentes, porque há aqueles que veem no ensino superior a única forma de transformar sua realidade. “E isso faz com que faça sentido toda a luta em prol de querer fazer com que a universidade cresça.”

O reitor

Os ambientes de trabalho do reitor não se limitam a seu gabinete na Reitoria da Universidade. Eles estão espalhados ao longo do estado de Goiás, nas 33 unidades universitárias e 8 câmpus da UEG, além de diversos outros espaços em que são necessárias interlocuções e parcerias para que os trabalhos sejam possíveis.

Estar em um cargo tão alto custa um preço – a barba hoje está mais grisalha que há três anos, os cabelos estão mais ralos e as manchas escuras sob os olhos, mais nítidas. No entanto, Antonio Cruvinel tenta trazer leveza aos desafios que tem pela frente.

“É muito errado as pessoas pensarem num reitor como uma estrela cadente, sozinha lá em cima. Para um reitorado funcionar é necessário que se tenha uma equipe boa e nossa equipe é muito boa. E lutar por essa equipe, que é formada por docentes e técnicos, é fundamental”, ressalta.

Cruvinel explica que existe uma esperança muito grande de que o reitor possa contribuir para com os servidores. “Estamos fazendo isso. Mas eu não trabalho sozinho. Todos os docentes que cumprem suas cargas horárias nas unidades e câmpus, cada pessoa que está lá na secretaria, que auxilia nas compras, que faz comunicação e que está ajudando em qualquer função na Universidade é necessária para que possamos alcançar nossos objetivos.”

“Essa universidade é o sonho de muita gente e é necessário que avancemos cada vez mais por cada um que escolheu a UEG, seja para estudar ou para trabalhar, por cada um que deposita suas esperanças na Universidade.”

Cruvinel destaca que vê todos tentando se empenhar ao máximo e dando o seu melhor para ver a Universidade crescer em qualidade. “Essa universidade é o sonho de muita gente e é necessário que avancemos cada vez mais por cada um que escolheu a UEG, seja para estudar ou para trabalhar, por cada um que deposita suas esperanças na Universidade.”

Ele destaca que não é reitor, é professor e está desempenhando o cargo de reitor, tentando dar o seu melhor e fazer tudo o que consegue pelo desenvolvimento da UEG. “Mas vai passar e eu vou voltar para a sala de aula. E quando eu voltar para a sala de aula minha esperança é que eu possa olhar para trás e dizer que ajudei nisso, que o caminho que trilhamos foi o correto, que a universidade conseguiu avançar nesses tantos pontos. Tenho consciência de que não vamos conseguir resolver tudo, mas se na minha gestão conseguirmos fazer com que a Universidade avance, eu já estarei feliz.”

O homem das exatas, criterioso e perfeccionista, é também o homem dos causos e suas histórias na Universidade dariam um longo e bom livro. Ele conta que nunca se viu reitor, nunca havia planejado ser, mas que a sua própria personalidade pró-ativa o levou a isso.

Na gestão, Antonio Cruvinel foi diretor da Unidade Universitária de Trindade e diretor do Instituto Acadêmico de Ciências Tecnológicas. O homem dos números, foi, inclusive, coordenador do curso de Designer de Modas. Participou de inúmeras comissões do Conselho Superior Universitário, entre elas uma das tantas comissões de Redesenho Institucional da Universidade.

Ele explica que quando foi um dos escolhidos para compor a equipe de interlocução do CsU, ficou claro para ele que a Universidade tinha uma dificuldade em formar lideranças. “E isso é uma das coisas que tenho tentado mudar. A UEG tem que despertar lideranças que tenham a capacidade de gestão.”

Quando a UEG passou por uma intervenção, Cruvinel ajudou nos trabalhos para que a Universidade retomasse sua própria gestão o mais rápido possível. A partir de sua atuação, muitas pessoas começaram a falar que ele tinha perfil e capacidade de gestão. “E eu advoguei várias vezes dizendo que não, que eu não era doutor, que eu era o menino de Trindade, que não estava na minha hora. Mas as pessoas diziam que eu conseguia entender como era o dia a dia da Universidade, sabia quais melhorias tinham que ser feitas e, sobretudo, qual era a habilidade que tínhamos que ter para que a UEG se estabilizasse.”

Nesse contexto, um grupo se reuniu e pressionou Antonio Cruvinel a se candidatar. “Até que me convenceram nesse propósito. Eu acho que para os grandes desafios da vida a gente nunca está pronto, mas eles vêm e temos que aceitá-los e superá-los. E o bom é que as pessoas se preocupam em me ajudar a tentar errar menos”.

O pai

“Meu maior orgulho é ser pai e sou um pai profissional, daqueles que gostam muito da paternidade. Eu rolo no chão com meus meninos”. Ele explica que já enfrentou vários desafios na vida, mas seu principal não é na UEG, é a saúde de seu primogênito.

“O Antônio Filho não é uma criança especial, não gosto desse termo, ele é uma criança atípica. Minha filha mais nova é tão especial quanto ele”. E foi a saúde de seu filho que fez Antonio Cruvinel entrar na UEG. Ele conta que assistiu ao filme “O curioso caso de Benjamin Button” por conta do filho e a história o incomodou.

“Eu trabalhava em várias empresas, inclusive multinacionais, tinha uma carreira consolidada. Mas quando o filme terminou eu pensei: eu vou morrer. Você não imagina que você vai morrer aos 30 e poucos anos. Pensa que é imortal e encara o mundo de peito aberto. Mas, com o filme, pela primeira vez eu me deparei com minha mortalidade e pensei no Antônio. E se eu morrer, como vai ser? O tratamento de saúde dele é caro, muito caro. O que vai acontecer?”.

A partir daí, o professor decidiu que precisava trabalhar em um local que, caso ele morresse, garantisse a seu menino o direito ao tratamento de saúde, então decidiu se tornar um servidor público. “Tomei posse na UEG em 2010, junto com quase 400 professores aprovados no concurso de 2009. Eu assumi disciplinas na Unidade Universitária de Ceres. Eu gostava demais de Ceres e tinha o desejo de morar mais próximo da cidade, no entanto, devido ao tratamento do meu filho, minha família não podia sair de Goiânia”.

Orientado pela professora Sueli Freitas, ele procurou a junta médica do Estado que constatou que a criança realmente necessitava de tratamento constante. Com isso, a Universidade pôde realocar o professor, cujo destino foi a Unidade Universitária de Trindade, onde foi representante docente no Conselho Superior Universitário, diretor, coordenador de curso, entre outras atividades que realizava como eletricista, pedreiro e encanador. Um verdadeiro faz tudo.

“É pelos meus filhos, pela minha família que tudo vale a pena. Eu estou aqui enquanto reitor, mas luto constantemente para dar o meu melhor como pai também. Eu sei da minha missão, sei onde estão os meus filhos, como eles estão. Isso é uma questão de prioridade da vida.”

O discente

Antonio Cruvinel entrou na Universidade como especialista e encontrou no mestrado em Engenharia Agrícola uma forma de juntar uma de suas especialidades, a eletrônica, ao campo. “Se eu quisesse me sedimentar como professor eu precisava continuar meus estudos, por isso procurei o mestrado, mas ele era exclusivo para professores e para graduados em Engenharia Agrícola.”

“O que eu quero para os próximos 25 anos da UEG? Uma universidade que forma pessoas que curam pessoas. Uma universidade humana e inclusiva no sentido mais literal da palavra, que inclua todos os seres humanos.”

Então ele começou a conversar com o colegiado do curso para mostrar a importância de sua pesquisa para a área, fez disciplinas como aluno especial, até que foi admitido como discente do programa. “Eu poderia ter tentado fazer o mestrado em qualquer outro lugar, mas o colegiado do curso alterou todo o princípio de formação do programa para me acolher. Alguns foram contra, mas muitos outros acreditaram em mim. Então eu me tornei mestre porque um grupo de professores acreditou que eu poderia contribuir e sou muito grato a isso.”

“O que eu quero para os próximos 25 anos da UEG? Uma universidade que forma pessoas que curam pessoas. Que curam doenças físicas, sim, mas que curam da ignorância, das mazelas da humanidade, do egocentrismo. Uma universidade humana e inclusiva no sentido mais literal da palavra, que inclua todos os seres humanos.”



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