Perfil
Foto: Matheus Novaes
Texto: Daniel Prates
Clodoveu Reis Pereira - Um idealista na educação
Professor

Engenheiro Civil, especialista em Engenharia de Saneamento e mestre em Engenharia do Meio Ambiente. Atuou na Companhia de Saneamento de Goiás por mais de 30 anos, foi vereador e secretário de Infraestrutura de Anápolis e secretário de Obras de Goiânia. Já era docente da Universidade Estadual de Goiás, mesmo antes de sua fundação, onde também foi diretor, pró-reitor e secretário-geral. Uma pessoa com muitas histórias. Foi esse o personagem que me recebeu no Laboratório de Hidráulica do Câmpus de Ciências Tecnológicas da UEG para uma conversa inspiradora. 

Clodoveu Reis Pereira é muito mais do que seu currículo anuncia. Entre canos, válvulas e conexões e tendo como pano de fundo o quadro-negro ainda cheio de cálculos e rabiscos de uma aula que acabara de ministrar, o professor me contou um pouco de sua história e carreira e descobri que estava diante de um idealista. Um daqueles que já não se fazem. Daqueles que se mantêm motivados mesmo diante das adversidades porque sua luta é maior que os contratempos da jornada. 

Natural de Patos de Minas, Minas Gerais, veio para Goiás ainda criança, com apenas 11 anos de idade e por aqui ficou. Ele mesmo se chama de ‘mineiro-goiano’, “um dos muitos que há por aqui”, diz. Ainda na juventude descobriu sua afinidade pelos cálculos, ingressou no curso de Engenharia Civil na Universidade Federal de Goiás e lá deu os primeiros passos na profissão que o acompanharia por toda a vida, seja em campo ou em sala de aula. 

Após a graduação, começou a trabalhar na Companhia de Saneamento de Goiás e se especializou. Em paralelo com sua atuação como profissional, sua natureza visionária o levou a se aventurar na vida política e foi eleito vereador do município de Anápolis de 1989 a 1992. Foi nessa época que, por ocasião da criação do curso de Engenharia Civil na então Universidade Estadual de Anápolis – Uniana, foi convidado a lecionar na instituição que viria a compor a Universidade Estadual de Goiás alguns anos depois. 

Tendo se tornado funcionário efetivo da instituição um ano antes de sua fundação, testemunhou e participou de muitas transformações e conquistas ao longo dos anos. Ele relata que na época foi apresentado ao projeto de uma universidade que unificasse as diversas instituições públicas do estado que teria como objetivo principal a formação de professores. “Eu, no primeiro momento, eu não entendi bem”, confessa o professor, pois, conta, apesar de seu apreço pela educação e atuar como docente, não se considerava um homem da academia, mas sim, um engenheiro de fato. 

Clodoveu era o único concursado na área da Engenharia da recém-fundada instituição e com sua experiência na administração pública, fruto de seus anos na política, o convite para colaborar na estruturação da Universidade foi menos que uma surpresa. “Quem viu como a UEG começou e hoje vê a dimensão que ela alcançou, tem até dificuldade de acreditar que ela chegou a esse ponto”, afirma. 

E ele sabe do que fala, afinal, compôs a linha de frente que ajudou na estruturação física e do quadro de servidores da instituição. “Naquele ano de 99, nós não tínhamos nada, nada, nada”, ressalta. Mas ele fez sua parte e viu o projeto se concretizar. Ele relata que até então, menos de 60% dos professores das escolas estaduais em Goiás eram graduados e o projeto de Licenciatura Plena Parcelada promovido pela UEG possibilitou a capacitação desses professores, algo que causou um impacto positivo muito relevante na educação do estado de uma forma geral. “Foi um acontecimento grandioso, rico. Você via senhoras de 70 anos, mães com crianças de colo, pessoas que se deslocavam mais de 200km e ficavam alojadas em escolas enquanto faziam os cursos”, Clodoveu descreve, entusiasmado, o momento que, segundo ele, impactou profundamente na educação de todo o estado. 

Ele conta que a UEG foi a responsável por avanços individuais nas vidas de milhares de pessoas, o que refletiu em avanços para toda a sociedade. “A quantidade de ex-alunos nossos que vemos hoje atuando no mercado de trabalho, na administração pública, é muito extensa. A UEG desempenhou um papel muito importante na história de Goiás, em termos de formação e capacitação de profissionais”, pontua. Ele enumera, com certa vaidade, nomes de políticos, empresários e figuras notórias que se graduaram na instituição. Confesso que alguns desses nomes me deixaram surpreso, acho que eu não tinha noção do alcance e impacto desta universidade.

“A UEG não pode ser um projeto de governo, mas sim um projeto de Estado. A universidade precisa de autonomia acadêmica, autonomia financeira. Temos que evitar pressões político-partidárias”

Mas ele diz que a UEG não está pronta, ainda tem carências e está em constante processo de formação, que pode ser melhor. Perguntei então, o que ele vislumbra para a universidade nos próximos 25 anos e ele diz que sempre lutou pela autonomia da instituição. “A UEG não pode ser um projeto de governo, mas sim um projeto de Estado. A universidade precisa de autonomia acadêmica, autonomia financeira. Temos que evitar pressões político-partidárias”, defende. “Assim, poderemos ter uma universidade de primeira grandeza e de referência para o Brasil”, completa.

Hoje com 68 anos de idade, dos quais quase a metade passados no ambiente acadêmico, diz que apesar de o tempo que resta na UEG se aproximar do fim, continua olhando os jovens que frequentam suas aulas não apenas como alunos, mas como aqueles que darão continuidade à construção da sociedade. Ele afirma que o processo de um Brasil novo passa pela educação, pois a educação é a única ferramenta de transformação. “Por isso insisto em ser professor e vou me aposentar com esse sonho”, promete. 

Quando pedi que se definisse como profissional e depois como pessoa, disse ser muito difícil separar um do outro, já que suas lutas são as mesmas seja na política, seja na sala de aula. Afirmou ser um sonhador, que defende seus princípios, que acredita na política e que podemos fazer uma sociedade diferente. “Estamos passando por um momento de negacionismo, de atraso. Vamos combater isso, vamos lutar pela democracia, vamos chamar a juventude para lutar pelo bem, sempre baseado na verdade”. 



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